Num universo de 77 delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht, a grande imprensa continua pinçando supostos fatos em vazamentos ilegais para seguir com a estratégia de desgastar a imagem do ex-presidente Lula. Desta vez, o jornal O Valor destacou em sua edição desta segunda-feira (13) suposições sobre a compra de um terreno onde seria construída uma nova sede para o Instituto Lula. Muito embora seja ato ilegal, vazar delações sigilosas se transformou em prática corriqueira da mídia, o que demonstra que o segredo de Justiça é apenas mais uma artimanha para resguardar aliados e atacar desafetos, já que na prática o vazamento é seletivo.
O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), além de pontuar que todo vazamento é condenável, independentemente do alvo, avaliou que esse episódio é mais um reflexo da ação coordenada entre quem vaza as informações e quem as publica. “É bom lembrar que várias matérias baseadas em dados vazados já foram desmentidas inúmeras vezes, principalmente nos processos contra o Lula. O que aconteceu? Muitas denúncias foram feitas, como a do apartamento e a do sítio, mas todas elas estão caindo por terra, porque foram vazamentos que não se sustentaram no momento da materialização das provas”, afirmou Zarattini.
Sem provas, o texto do jornal Valor faz rodeios em suposições evasivas: um executivo que ouviu de outro executivo sobre o interesse em um terreno, que teria sido comprado para abrigar uma construção que sequer foi erguida. Para além de se basear num vazamento de delação, sem que haja materialidade do que está sendo dito, o jornal consegue ir além na habilidade de tergiversar sobre o tema. Simplesmente antecipa o que testemunhas ainda vão dizer em juízo sobre o assunto. Ou seja, deixou de ser jornalismo para virar futurologia.
O jornal usa frases como “o Valor apurou que algumas delas [testemunhas] vão relatar [ao juiz Sérgio Moro] que o terreno...”. Em suma, é romper com as bases do jornalismo, já que, para reforçar uma tese que incrimina alguém, a realidade deixa matéria-prima para a notícia, passando a ganhar força o que nem aconteceu, mas que poderá acontecer. Em outro trecho, o jornal afirma: “testemunhas também devem dizer que o negócio não foi pra frente porque...”, antecipando mais uma vez o futuro.
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o sigilo das delações deve ser imediatamente derrubado, para evitar o que já está acontecendo há muito tempo: os vazamentos seletivos. “Acabar o sigilo seria acabar com a manipulação do Ministério Público, já que o segredo de Justiça tem se prestado unicamente à manipulação dos órgãos de Justiça. É preciso exigir total transparência dessas informações, pedindo o fim do segredo”, defendeu o parlamentar.
Em nota, o Instituto Lula contestou a matéria, lamentando que parte da imprensa continue recorrendo a vazamentos ilegais para dar seguimento à “tarefa de gerar manchetes contra Lula”, mesmo que, para isso, tenha “de recorrer ao ‘ouvi dizer’ e a documentos sem comprovação”. O instituto também aponta erros factuais acerca da agenda de audiências do processo. Isso porque o processo em questão ainda não está na fase de audiências com o juiz Sérgio Moro. Ou seja, dizer que testemunhas estão prestes a falar em juízo foi “mais um erro primário e grosseiro do jornal”.
Por fim, a contradita ao jornal feita pelo Instituto Lula mostra qual tem sido o desfecho de todos os vazamentos que serviram como mote à espetacularização de fatos negativos a Lula. “As acusações trazidas por delações vazadas com estardalhaço para parte da imprensa brasileira não têm se confirmado nos depoimentos desses mesmos delatores. Todos os ouvidos até agora afirmaram, frente ao juiz, não ter conhecimento de qualquer ilegalidade ou vantagem indevida obtida pelo ex-presidente Lula”.
PT na Câmara
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