domingo, 29 de janeiro de 2012

Terror imobiliário ou a expulsão dos pobres do centro de São Paulo - Ermínia Maricato

O artigo demonstra claramente como vem agindo a especulação imobiliária em S. Paulo, com o apoio do Prefeito Kassab e de todos os órgãos da Prefeitura e do Governo do Estado.

Terror imobiliário ou a expulsão dos pobres do centro de São Paulo

O modelo é contra os pobres que estão longe de constituírem minoria em nossa sociedade. O modelo quer os pobres fora do centro de São Paulo. Isso é óbvio. O que não parece ser óbvio é que, em última instância, a determinação disso tudo é econômica. A centralidade é a produção do espaço urbano e a mola propulsora, a renda imobiliária. E depois dizem que Marx está morto.

Ermínia Maricato

Dificilmente, durante nossa curta existência, assistiremos disputa mais explícita que esta, que opõe prefeitura e Câmara Municipal de São Paulo (além do governo estadual), que representam os interesses do mercado imobiliário, contra os moradores e usuários pobres, pelo acesso ao centro antigo de São Paulo. Trata-se do único lugar na cidade onde os interesses de todas as partes (mercado imobiliário, prefeitura, Câmara Municipal, comerciantes locais, movimentos de luta por moradia, moradores de cortiços, moradores de favelas, recicladores, ambulantes, moradores de rua, dependentes químicos, e outros) estão muito claros, e os pobres não estão aceitando passivamente a expulsão.

No restante da cidade, como em todas as metrópoles brasileiras, um furacão imobiliário revoluciona bairros residenciais e até mesmo as periferias distantes, empurrando os pobres para além dos antigos limites, insuflado pelos recursos do Minha Casa Minha Vida no contexto de total falta de regulação fundiária/imobiliária ou, em outras palavras, de planejamento urbano por parte dos municípios. A especulação corre solta, auxiliada por políticas públicas que identificam valorização imobiliária como progresso.

Ao contrário do silêncio (ou protestos pontuais) que acompanha essa escandalosa especulação que, a partir de 2010, levou à multiplicação dos preços dos imóveis, em todo o país, no centro de São Paulo, foi deflagrada uma guerra de classes.

Não faltaram planos para recuperar o centro tradicional de São Paulo. Desde a gestão do prefeito Faria Lima, vários governos defenderam a promoção de moradia pública na região. Governos tucanos apostaram em estratégias de distinção local por meio de investimento na cultura (como demonstraram muitos trabalhos acadêmicos) Vários museus, salas de espetáculo, centros culturais, edifícios históricos, foram criados ou renovados. No entanto, o mercado imobiliário nunca respondeu ao convite dos diversos governos, de investir na região, seja para um mercado diferenciado, seja para habitação social como pretenderam os governos Erundina e Marta.

Outras localizações (engendradas pelas parcerias estado/capital privado, como demonstrou Mariana Fix) foram mais bem sucedidas como foi o caso da região Berrini/Águas Espraiadas. Outro fator que inibiu a entrada mais decisiva dos empreendedores no centro foi a reduzida dimensão dos terrenos. O mercado imobiliário busca terrenos amplos que permitam a construção de uma ou de várias torres- clube, padrão praticamente generalizado atualmente no Brasil.

Finalmente, há os pobres - com toda a diversidade já exposta - cuja proximidade desvaloriza imóveis novos ou reformados, coerentemente com os valores de uma sociedade que além de patrimonialista (e por isso mesmo) está entre as mais desiguais do mundo. Aceita-se que os pobres ocupem até áreas de proteção ambiental: as Áreas de Proteção dos Mananciais (são quase 2 milhões de habitantes apenas no sul da metrópole), as encostas do Parque Estadual da Serra do Mar, as favelas em áreas de risco, mas não se aceita que ocupem áreas valorizadas pelo mercado, como revela a atual disputa pelo centro.

Enquanto os planos das várias gestões municipais para o centro não deslancharam (leia-se: não interessaram ao mercado imobiliário), os serviços públicos declinaram (o acúmulo de lixo se tornou regra), num contexto já existente de imóveis vazios e moradia precária. O baixo preço do metro quadrado afastou investidores e, mais recentemente, nos últimos anos... também o poder público. Nessa área assim “liberada” e esquecida pelos poderes públicos, os dependentes químicos também se concentraram. No entanto a vitalidade do comércio na região, que inclui um dos maiores centros de venda de computadores e artigos eletrônicos da América Latina, não permite classificar essa área como abandonada, senão pelo falta de serviços públicos de manutenção urbana e políticas sociais.

Frente a isso, a gestão do prefeito Kassab deu continuidade ao projeto NOVA LUZ, iniciado por seu antecessor, José Serra, e vem se empenhando em retirar os obstáculos que afastam o mercado imobiliário de investir na área. Estão previstos a desapropriação de imóveis em dezenas de quadras e o remembramento dos lotes para constituírem grandes terrenos de modo a viabilizar a entrada do mercado imobiliário.

A retomada de recursos de financiamento habitacional com o MCMV, após praticamente duas décadas de baixa produção, muda completamente esse quadro. Os novos lançamentos do mercado imobiliário passam a cercar a região. Vários bairros vizinhos, como a Barra Funda, apresentam um grande número de galpões vazios em terrenos de dimensões atraentes. A ampliação de outro bairro vizinho, Água Branca, vai se constituir em um bairro novo .

Finalmente, o mercado imobiliário e a prefeitura lançam informalmente a ideia de uma fantástica operação urbana que irá ladear a ferrovia começando no bairro da Lapa e estendendo-se até o Brás. O projeto inclui a construção de vias rebaixadas. Todos ficam felizes: empreiteiras de construção pesada, mercado imobiliário, integrantes do executivo e legislativo (que garantem financiamento para suas campanhas eleitorais) e a classe média que ascendeu ao mercado residencial com os subsídios.

O Projeto Nova Luz parece ser a ponta de lança dessa gigantesca operação urbana.

Mas ainda resta um obstáculo a ser removido: os pobres que se apresentam sobre a forma de moradores dos cortiços, moradores de favelas, dependentes de droga, moradores de rua, vendedores ambulantes... Com eles ali, a taxa de lucro que pode ser obtida na venda de imóveis não compensa.

Algumas ações não deixam dúvida sobre as intenções de quem as promove. Um incêndio, cujas causas são ignoradas, atingiu a Favela do Moinho, situada na região central ao lado da ferrovia. Alguns dias depois, numa ação de emergência, a prefeitura contrata a implosão de um edifício no local sob alegação do risco que ele podia oferecer aos trens que passam ali (enquanto os moradores continuavam sem atendimento, ocupando as calçadas da área incendiada). Em seguida os dependentes químicos são literalmente atacados pela polícia sem qualquer diálogo e sem a oferta de qualquer alternativa. (Esperavam que eles fossem evaporar?). Alguns dias depois vários edifícios onde funcionavam bares, pensões, moradias, são fechados pela prefeitura sob alegação de uso irregular. (O restante da cidade vai receber o mesmo tratamento? Quantos usos ilegais há nessa cidade?).

O centro de São Paulo constitui uma região privilegiada em relação ao resto da cidade. Trata-se do ponto de maior mobilidade da metrópole, com seu entroncamento rodo-metro- ferroviário. A partir dali, pode-se acessar qualquer ponto da cidade o que constitui uma característica ímpar se levarmos em conta a trágica situação dos transportes coletivos. Trata-se ainda do local de maior oferta de emprego na região metropolitana. Nele estão importantes museus e salas de espetáculo, bem como universidades, escolas públicas, equipamentos de saúde, sedes do judiciário, órgãos governamentais.

Apenas para dar uma ideia da expectativa em relação ao futuro da região está prevista ali uma Escola de Dança, na vizinhança da Sala São Paulo, cujo projeto, elaborado por renomados arquitetos suíços – autores do arena esportiva chinesa “Ninho de Pássaro” - custou a módica quantia de R$ 20 milhões de acordo com informações da imprensa. É preciso lembrar ainda que infraestrutura local é completa: iluminação pública, calçamento, pavimentação, água e esgoto, drenagem como poucas localizações na cidade.

Trata-se de um patrimônio social já amortizado por décadas de investimento público e privado. A disputa irá definir quem vai se apropriar desse ativo urbano e com que finalidade. A desvalorização de tal ambiente é um fenômeno estritamente ou intrinsecamente capitalista, como já apontou David Harvey analisando outros processos de “renovação” de centros de cidades americanas.

A luta pela Constituição Federal de 1988 e a regulamentação de seus artigos 182 e 183, que gerou o Estatuto da Cidade, se inspirou, em parte, na possibilidade de utilizar imóveis vazios em centros urbanos antigos para moradia social. Nessas áreas ditas “deterioradas” está a única alternativa dos pobres vivenciarem o “direito à cidade” pois de um modo geral, eles são expulsos para fora da mesma. Executivos e legislativos evitam aplicar leis tão avançadas. O judiciário parece esquecer-se de que o direito à moradia é absoluto em nossa Carta Magna enquanto que o direito à propriedade é relativo, à função social. (Escrevo essas linhas enquanto decisão judicial autorizou o despejo –que se fez de surpresa e de forma violenta- de mais de 1.600 famílias de uma área cujo proprietário – Naji Nahas - deve 15 milhões em IPTU, ao município de São José dos Campos. Antes de mais nada, é preciso ver se ele era mesmo proprietário da terra, já que no Brasil, a fraude registraria de grandes terrenos é mais regra que exceção, e depois verificar se ela estava ou não cumprindo a função social).

É óbvio, que o caso que nos ocupa aqui mostra a falta de compaixão, de solidariedade, de espírito público. Crianças moram em péssimas condições nos cortiços, em cômodos insalubres, dividem banheiros imundos com um grande número de adultos (quando há banheiros). Com os despejos violentos são remetidas para uma condição ainda pior de moradia pelo Estado que , legalmente, deveria responder pela solução do problema. Num mundo com tantas conquistas científicas e tecnológicas, dependentes químicos são tratados com balas de borracha e spray de pimenta para se dispersarem. Um comércio dinâmico, formado por pequenas empresas e ambulantes, que poderia ter apoio para a sua legalização, organização e inovação é visto como atrasado e indesejável. O modelo perseguido é o do shopping center, o monopólio, e não o pequeno e vivo comércio de rua ou o boteco da esquina.

O modelo é contra os pobres que estão longe de constituírem minoria em nossa sociedade. O modelo quer os pobres fora do centro como anunciou o jornal Brasil de Fato. Tudo isso é óbvio. O que não parece ser óbvio é que, em última instância, como diria Althusser, a determinação disso tudo é econômica. A centralidade é a produção do espaço urbano e a mola propulsora, a renda imobiliária. E depois dizem que Marx está morto.





Ermínia Maricato é urbanista.

Haddad diz que aliança com o PSD está descartada no momento

Por Vandson Lima

Valor SÃO PAULO -

O ex-ministro da Educação e pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou hoje que uma eventual coligação entre PT e PSD, do atual prefeito Gilberto Kassab, não é prioridade de nenhum dos dois partidos.

"Não houve qualquer aproximação formal do PSD. Os presidentes do PT nem não foram procurados. O próprio PSD deixou claro que tem outras prioridades. E a nossa é a aproximação com os partidos da base aliada do governo da presidente Dilma Rousseff, com PDT, PR, PSB, PCdoB e PMDB", observou.

Ciente de que uma aliança com o PSD seria bastante questionada, já que o partido faz oposição a Kassab na cidade, Haddad afirmou que "o sentimento do PT é de mudança, o que acreditamos estar em sintonia com a população. Não vamos abdicar disso por conveniência eleitoral". E continuou. "Não queremos, em nenhuma medida, que qualquer aliança rebaixe as nossas pretensões de atuação na cidade".

Sobre a escolha do vice de sua chapa, o ex-ministro disse que assim que forem definidos os partidos da coligação a questão entrará na pauta, mas deu dicas de qual deve ser o critério para se chegar ao nome ideal, caso não haja consenso.

"Pode ser pelo critério de maior bancada, que seria o caso do PMDB, se viessem, ou do PR, que é a segunda maior dentre os partidos da base".

Visto que PDT, PCdoB e PRB também têm pré-candidaturas postas, a saída da disputa também poderia ser um diferencial. "Todos esses partidos nos pediram um tempo para ver o quadro eleitoral evoluir", observou.

(Vandson Lima / Valor)

sábado, 21 de janeiro de 2012

'Voodoo Chile', por Orianthi e Jimi Hendrix


Haddad: 'Adversários vão tentar macular o Enem'


Ministro da Educação diz que disputa pela Prefeitura de São Paulo não será agressiva como a eleição de 2010 e afirma que prioridade de Gilberto Kassab é se unir ao PSDB de José Serra

20 de janeiro de 2012
22h 30

O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Às vésperas de deixar o Ministério da Educação, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que fará uma campanha sem ataques, mas não deixou de dar estocadas nos tucanos. "Eu não vou oferecer a São Paulo o espetáculo de difamação promovido em 2010 pelo PSDB", disse, numa referência à disputa presidencial entre Dilma Rousseff e o ex-governador José Serra, marcada por insultos. "A campanha de 2010 deve nos servir de lição para afastar a deselegância e o mau gosto."

Andre DuseK-AE

‘Por mais ataques pessoais que eu tenha recebido, não devolverei’, diz HaddadDilma preparou uma solenidade de despedida para Haddad na segunda-feira, no Palácio no Planalto, quando será anunciada a concessão da milionésima bolsa do ProUni. Pesquisa interna em poder do PT indica que uma chapa formada por Haddad e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PSD), seria imbatível, mas o ministro não parece empolgado com a aliança proposta pelo prefeito Gilberto Kassab.

Na quinta-feira, Haddad teve longa conversa com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que lançou a candidatura do deputado Gabriel Chalita. "Ele expressou a vontade de manter o PT e o PMDB unidos em torno de um projeto nacional", disse. O ministro desconversou sobre a decisão de Serra de não entrar no páreo e, ao abordar os problemas do Enem, insinuou que o PSDB tem como calcanhar de Aquiles as privatizações de empresas estatais.

O sr. nunca disputou uma eleição, é pouco conhecido entre eleitores de SP e tem só 4% das intenções de voto nas pesquisas. A fórmula da "cara nova" na política, que elegeu Dilma Rousseff, pode beneficiá-lo?

Reconheço a importância das pesquisas, mas quase um ano antes é preciso relativizar os números. A política tem de ser convidativa para as pessoas comuns, fugir dos estereótipos. Talvez essa eleição em São Paulo contribua para isso, porque todos os partidos planejam lançar candidatos novos.

O que o sr. fará para não parecer teleguiado pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma?

Essa mesma acusação se fez à presidenta Dilma. É mais um dogma que precisa ser quebrado. A colaboração que podemos dar é mostrar que as pessoas não devem se impressionar com esses rótulos. É um discurso conservador.

O secretário de Cultura, Andrea Matarazzo (PSDB), considerou "apavorante" sua ideia de reinventar São Paulo e foi irônico ao afirmar que nem pode imaginar o sr. usando na cidade a mesma técnica aplicada no Enem. Como o sr. responde a isso?

Graças ao Enem, nós vamos conceder, na segunda-feira, a milionésima bolsa a alunos da escola pública pelo Programa Universidade para Todos (ProUni). Estamos promovendo a maior inclusão na educação superior da história do País. Eu não pretendo responder a agressões pessoais. A campanha de 2010 deve nos servir de lição para afastar a deselegância e o mau gosto.

O ex-governador José Serra, que protagonizou duros embates com a então candidata Dilma em 2010, anunciou estar fora da disputa. Isso é bom para o PT?

Essa é uma questão do PSDB. Não nos afeta.

Mas ele é considerado um candidato forte...

E tem uma dose forte de rejeição. De qualquer forma, não faço esse tipo de cálculo.


O sr. não teme ser conhecido como o candidato dos erros do Enem?

Pode ser que seja essa a linha dos nossos adversários. Há uma tentativa de desgastar um projeto que tem 80%, 90% de aprovação, como o Enem. Da mesma maneira que tentaram macular o Bolsa Família, o PAC, o ProUni, vão tentar macular o Enem. Agora, não há no mundo um exame nacional do ensino médio que não passe pelos problemas que enfrentamos aqui. As tentativas de fraude foram abortadas pela Polícia Federal. Na China houve problemas, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França.

O novo Enem está no 3º ano e em todos eles houve problemas. Não era possível prever falhas?

Mas nós vamos ficar falando só de Enem? Há quantos anos existe o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que tem 2% do tamanho do Enem? A Polícia Federal apurou fraude em cinco edições.

O sr. não conseguiu conquistar aliados de peso até agora. O PMDB apresentou o deputado Gabriel Chalita como candidato, o PDT e o PC do B também têm concorrentes... Como reverter esse quadro de divisão na base?

Mas quem conseguiu apoio a essa altura? Está tudo muito no começo. Não vi nenhuma aliança ser fechada. Estão todos buscando entendimentos.

O sr. ainda gostaria de ter Gabriel Chalita como vice?

Eu não quero ser desrespeitoso com pretensões legítimas. São pessoas que têm projetos convergentes com os nossos. Se das conversas resultar uma aliança no primeiro turno, bem. Caso contrário, vamos buscar entendimento no segundo turno. Ontem (quinta-feira), por exemplo, tive uma conversa com o presidente Michel Temer sobre o quadro de São Paulo. Ele me disse que tem muito respeito por minha candidatura. É um homem sereno, maduro e expressou a vontade de manter o PT e o PMDB unidos em torno de um projeto nacional.

Sua ideia é fazer um pacto de não agressão com os partidos aliados do governo Dilma?

Não preciso fazer pacto com ninguém. Eu não vou oferecer a São Paulo o espetáculo de difamação promovido em 2010 pelo PSDB. Destruir a reputação das pessoas não é minha prática, nunca foi. Por mais ataques pessoais que eu tenha recebido, não devolverei.

Por que o sr. não se entusiasma com a proposta do prefeito Gilberto Kassab de apresentar um nome do PSD para seu vice, já que Lula defende a aliança?

O prefeito foi claro em sua estratégia de curto prazo, que é buscar uma aliança com Serra. Embora ele tenha sinalizado simpatia por outra alternativa e elogiado o PT, deixou claro que a perspectiva era outra. Penso que o prefeito está estudando cenários. Devemos receber com naturalidade um gesto de generosidade e simpatia. Você ganha a eleição assim, angariando apoio, independentemente de aliança eleitoral.



Não é contraditório o PT se aliar ao PSD em São Paulo, já que faz oposição a Kassab ?

O PT, nesse momento, está buscando entendimento com partidos da base aliada da presidenta Dilma.

Mas o PSD, hoje, é quase como se fosse da base de Dilma...

(Risos). Ele tem feito gestos importantes de aproximação, embora se declare independente.

O julgamento dos réus do mensalão, previsto para este ano, pode atrapalhar sua campanha?

Não acredito nisso. Hoje, as instituições funcionam livremente para apurar responsabilidades e dosar a pena de acordo com o erro cometido. Há denúncias para todo lado. Não gosto da expressão mensalão, mas tem o julgamento do mensalão do PSDB em Minas, do DEM no Distrito Federal. Não sei se haverá apuração dessas recentes denúncias sobre o processo de privatização, se o Ministério Público se envolverá nisso...

O sr vai atacar as privatizações do PSDB na campanha?

Não da forma como você está falando. A questão central é a da saúde. Existe essa proposta do governo do Estado de privatizar leitos do SUS para planos de saúde. Eu sou contrário a isso. Há também um aspecto importante, na cidade de São Paulo, que é o das concessões urbanísticas. Precisamos cuidar para não deixar sair dos trilhos. Temos de repensar o planejamento urbano.

A senadora Marta Suplicy foi obrigada a retirar a pré-candidatura para apoiá-lo, mas até agora não demonstra entusiasmo de entrar em sua campanha. É possível curar essas feridas?

A ideia de que no PT alguém foi obrigado a retirar a candidatura não tem como prosperar.

Ela foi pressionada e disse que ficou frustrada...

Até o presidente Lula já participou de prévia no PT. Tem um pouco de fantasia e dramaticidade nisso. Na conversa que tive com a senadora, a quem respeito muito - acho que foi uma grande prefeita -, ela demonstrou total disposição de colaborar com a campanha.

O sr. está contando com isso?

Conto com o partido todo, com os partidos aliados, com o presidente Lula, com a presidenta Dilma... A pior coisa do mundo é você esconder quem o apoia. Isso é o feio na política...

O sr está falando de quem? O PT diz que o ex-governador Serra escondeu o ex-presidente Fernando Henrique em 2010.

Você acha isso? Estou falando em tese (risos).

E o sr. não vai se esconder atrás do ex-presidente Lula e da presidente Dilma?

Não existe eleição de quem não se apresenta. Nem o candidato pode se esconder nem os seus apoiadores. Se não, tem uma coisa errada com a campanha.

Os limites do adesismo - Por Cláudio Gonçalves Couto

Se há algo que notabiliza como político o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, é a sua habilidade como articulador. Antes mesmo de ser guindado por José Serra à condição de alcaide da maior metrópole brasileira, Kassab já havia se destacado como o principal construtor do PFL paulista, organizando o partido pelo interior. Foi essa capacidade como negociador político, mais do que eventuais sucessos administrativos, que lhe renderam o posto de vice-prefeito na chapa demo-tucana e, depois, a reeleição, cindindo o PSDB. Seguiu nessa senda ao deflagrar uma defecção em massa do DEM, que teve como subproduto substancial a oportunidade de migração sem custos ou riscos para insatisfeitos de todos os matizes, tanto os desconfortáveis no barco da oposição como os incomodados em agremiações do campo governista. Nada mais fácil, já que o PSD não seria "de direita, de esquerda, nem de centro", apenas oportunista.



A última cartada desta raposa foi a oferta ao PT de uma aliança nas eleições municipais paulistanas. O fato de seu partido ser um invertebrado ideológico, disposto a negociar com quem quer que seja, em princípio facilita as coisas. Mas isto não seria exatamente algo indispensável, já que a lógica coalicional do multipartidarismo brasileiro facilita todas as aproximações, a despeito de quaisquer origens programáticas que as agremiações possam ter tido. Isto fica evidente tanto pelo apoio do PP (partido do capitão Bolsonaro e sucessor da Arena da ditadura militar) ao governo da ex-guerrilheira Dilma Rousseff, quanto pela presença do PCdoB na administração kassabista em São Paulo. Nessa festa partidária brasileira, ninguém é de ninguém e todos são de todos; ou quase. Um dos limites mais claros para isto está nas alianças eleitorais entre os dois partidos polares do sistema nacional, PT e PSDB. Para esses dois, são interditadas as alianças nacionais, estaduais ou em municípios de primeira grandeza, embora sejam liberadas as coligações pelo interiorzão afora, onde a lógica da política nacional não faz sentido e a ideologia é uma língua estranha.



Aliança entre PSD e PT só interessa ao primeiro

Ao acenar publicamente com seu possível apoio ao PT no pleito paulistano, Kassab aumenta seu cacife numa negociação com os tucanos, seus parceiros de primeira hora. De quebra, facilita sua amizade com o governo federal. Contudo, para que tal proposta matreira seja politicamente levada a sério, é preciso considerar se tal aliança é proveitosa para o PT, já que o casamento não sai sem a anuência das partes. Fazendo-se as contas, faz muito pouco sentido, pois o prefeito paulistano não tem muito a oferecer, mas pode causar prejuízos. Vejamos.



Em primeiro lugar, o PSD não carreia tempo de TV para seus aliados (não mais do que 30 segundos), pois tendo sido criado após as últimas eleições congressuais, não obteve votos para deputado federal e, consequentemente, não pontua no critério de distribuição do tempo no horário eleitoral gratuito. Em segundo lugar, a administração de Kassab é mal avaliada pela população, como demonstram todas as pesquisas. Assim, contar com seu apoio mais tira do que atrai votos - como também foi demonstrado em recente pesquisa do Datafolha. Em terceiro lugar, o PT faz uma forte oposição à administração Kassab na Câmara Municipal e em outras instâncias, de modo que uma aliança obrigaria o partido a moderar seu discurso e, no limite, defender o aliado. Como explicar ao eleitor tal mudança de posição? E, se como afirmou Fernando Haddad ao Valor de ontem, candidatos não devem esconder seus aliados, seria muito difícil jogar Kassab para baixo do tapete.



Em quarto lugar, poder-se-ia alegar que Kassab barganharia a aliança eleitoral em troca do eventual apoio dos vereadores de sua base ao futuro prefeito petista, se eleito. Ora, mas há quem duvide que os vereadores que hoje apoiam o prefeito na Câmara, sejam ou não de seu partido, apoiarão qualquer um que for eleito, desde que recebam algo em troca? Portanto, uma oferta como essa apenas enganaria a ingênuos, que se dispõem a pagar por algo que já têm. Em quinto lugar, Kassab poderia barganhar o apoio do PSD à presidenta Dilma em troca da aliança em São Paulo. Mas vale aqui a mesma lógica dos vereadores: o PSD e seus deputados se dispõem a apoiar qualquer governo que atenda a seus pleitos no Legislativo.



O único ganho a ser auferido pelos petistas no caso de uma aliança com o PSD seria o isolamento de José Serra em relação a um de seus maiores aliados. Contudo, tal ganho é largamente sopesado pelos prejuízos que traz (como nas segunda e terceira razões aduzidas acima). Ademais, Serra já passa por um processo de isolamento dentro de seu próprio partido, tanto na frente nacional (com Aécio à frente), como na estadual (com Alckmin à frente). Para quê, então, gastar cartuchos importantes na aceleração de um processo que já está em curso por questões internas à disputa tucana? Faz mais sentido buscar uma aliança com o principal parceiro nacional, o PMDB, eliminando um adversário que também é ligado à educação, jovem e com forte potencial de crescimento (Gabriel Chalita). Ou então, repetir a tradicional aliança com o PCdoB, que possui um candidato bem situado nas pesquisas (Netinho de Paula) e que reforçaria a candidatura petista na periferia da cidade, oferecendo um contraponto à imagem de moço de classe média escolarizada de Haddad (apesar de sofrer forte rejeição).



Em suma, embora o assédio de Kassab ao PT seja um ato de esperteza política, ela faz muito mais sentido para o prefeito de São Paulo do que para o partido de Lula. Entretanto, como ele, apesar de engenheiro e muito matreiro, não é o único que sabe fazer contas, é pouco provável que tal aliança prospere.



Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP e colunista convidado do "Valor". Maria Cristina Fernandes volta a escrever em fevereiro



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nota de pesar, companheiro Duvanier Paiva Ferreira

São Paulo, 19 de janeiro de 2012



É com grande pesar que o Diretório Municipal de São Paulo comunica o falecimento do companheiro Duvanier Paiva Ferreira, hoje 19/01.

Duvanier foi filiado no Diretório Zonal da Penha e militante do Partido dos Trabalhadores. Foi presidente do SindSaúde, presidente da Associação de Funcionários do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo, professor na alfabetização de adultos da Prefeitura de São Paulo, secretário de Formação da CUT-SP, fundou e coordenou a Escola Sindical de São Paulo. Participou do Programa de Formação de Multiplicadores em negociação do Trabalho no SUS da Internacional de Serviços Públicos – ISP Brasil. Representou a CUT em eventos relacionados à agenda política e sindical no Panamá, Cuba, Suíça, Uruguai, México e China (1992 a 2002).

No governo Marta Suplicy, foi chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Gestão Pública, em 2003/2004. Desde 2007, era secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento.

Atualmente ocupava o cargo de secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento. Era também membro do Conselho de Administração da Companhia Docas do Estado de São Paulo.

O velório será realizado no Campo da Boa Esperança, Capela 2, a partir de 12h30, em Brasília (DF). Depois o corpo será transladado para São Paulo, onde será velado e sepultado.





Antonio Donato

Presidente do DM PT-SP

São Paulo tem a tarifa de ônibus mais cara do Brasil

Tarifas em capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes


Cidade               UF     Populacao   out_11    jan_12


Aracaju              SE        542.637      2,25      2,25

Belém                PA    1.494.856       2,00      2,00

Belo Horizonte   MG   2.482.837       2,45     2,65

Boa Vista           RR      281.213        2,00     2,00

Brasília               DF   2.635.566        2,00     2,00

Campinas           SP   1.107.867        2,85     2,85

Campo Grande   MS    822.641        2,70      2,70

Contagem          MG     638.177       2,55      2,70

Cuiabá               MT     583.113       2,50      2,70

Curitiba              PR  1.897.931       2,50      2,50

Duque de Caxias RJ    906.957        2,50      2,60

Feira de Santana BA   569.836        2,35      2,35

Florianópolis      SC    434.797        2,60      2,60

Fortaleza           CE  2.567.361        2,00     2,00

Goiânia             GO  1.294.064        2,50     2,50

Guarulhos          SP  1.405.036         2,90    3,00

Jaboatão            PE     693.782         2,00    2,00

João Pessoa       PB     720.782         2,10    2,20

Joinville              SC     521.421         2,55    2,75

Juiz de Fora       MG    536.895         1,95    1,95

Londrina            PR     521.874          2,20   2,20

Macapá             AP     415.025          2,30   2,30

Maceió              AL     996.119         2,10   2,10

Manaus            AM   1.862.160        2,25   2,75

Natal                RN      843.565        2,20   2,20

Nova Iguaçu     RJ       904.080        2,50   2,65

Osasco             SP       748.617       2,90   3,00

Palmas             TO      254.114        2,20   2,20

Porto Alegre    RS    1.475.161        2,70   2,70

Porto Velho    RO       406.201       2,60    2,60

Recife             PE    1.568.960        2,00    2,00

Ribeirão Preto SP       589.602        2,60    2,60

Rio Branco      AC      344.897        2,40    2,40

Rio de Janeiro RJ    6.300.103         2,50     2,75

Salvador        BA    2.903.270         2,50     2,50

Santo André  SP        684.202         2,90     2,90

São Bernardo SP        860.558        2,90     2,90

São Gonçalo RJ       1.026.484        2,45     2,60

São José      SP           650.977        2,80     2,80

São Luís      MA       1.071.472        2,10     2,10

São Paulo    SP       11.308.771       3,00     3,00


Sorocaba    SP             626.427       2,85     2,85

Teresina        PI            848.127       1,90      2,10

Uberlândia    MG          654.441      2,40       2,60

Vitória          ES            329.559      2,20      2,35


Tarifas expressas em reais (R$)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Invalidez por acidente de trânsito dispara

Maior parte dos casos é de jovens em idade economicamente produtiva; gasto previdenciário chega a R$ 8,6 bi

 
Casos de invalidez permanente de vítimas do trânsito se multiplicaram por quase 5 de 2005 a 2010

O motorista Antônio Carlos de Souza, 49, afastado do trabalho depois de um acidente com veículos em dezembro de 2008 entre Jundiaí e Campinas (SP)





ÉRICA FRAGA

DE SÃO PAULO

PAULO MUZZOLON

EDITOR-ADJUNTO DE “MERCADO”

"Sempre fui dinâmica, independente. Agora, não consigo trabalhar."



Desde que sofreu um acidente com moto, há um ano, Carlita Tarsiana Carvalho, 28, está afastada pelo INSS. Ela torce para recuperar os movimentos do braço esquerdo, hoje totalmente paralisado.

"Já passei por cirurgia, mas não obtive resultado algum", diz ela, que trabalhava em um supermercado, repondo mercadorias nas prateleiras.

A história de Carlita representa uma situação cada vez mais comum. Casos de invalidez permanente entre vítimas de acidentes de trânsito se multiplicaram por quase cinco entre 2005 e 2010, passando de 31 mil para 152 mil por ano.

Nos primeiros nove meses de 2011, houve novo aumento de 52%, para 166 mil, segundo números do Dpvat, seguro obrigatório pago por proprietários de automóveis.

Os dados revelam que a maioria dos acidentados

-mais de 70% dos casos em 2011- usava moto e está em plena idade economicamente ativa (entre 18 e 44 anos).

O quadro preocupa a Previdência Social, que teme ter de arcar com os custos de uma geração de jovens aposentados por invalidez.

"O que mais tem crescido é a concessão de aposentadoria por invalidez devido a acidentes com motos", diz Leonardo Rolim, secretário de Políticas de Previdência.

"Há trabalhadores que só contribuíram [à Previdência] por cinco anos, mas que vão receber aposentadoria por invalidez pelo resto da vida."

Projeções apontam que o INSS gastou R$ 8,6 bilhões com benefícios gerados por acidentes de trânsito. A cifra representa 3,1% de todas as despesas previdenciárias.

PREJUÍZO ECONÔMICO

O Dpvat classifica os casos de invalidez como leves, moderados e graves.

O INSS considera que há situações em que, depois de um período de tratamento, o beneficiário pode voltar a trabalhar, ainda que em outra função. Mas, segundo especialistas, crescem os casos em que o trabalhador acaba tendo de se aposentar.

Antônio Carlos de Souza, 49, acha que dificilmente voltará a ser motorista: "Não consigo subir escada ou dirigir, e já estou afastado há mais de três anos".

Souza dirigia o carro da empresa onde trabalha numa tarde de dezembro de 2008 quando uma Kombi o atingiu. Após o acidente em estrada entre Jundiaí e Campinas (SP), ficou com uma perna mais curta do que a outra.

Segundo Ricardo Xavier, diretor-presidente da Seguradora Líder, que administra o Dpvat, o forte aumento da frota de carros e principalmente de motos nos últimos anos explica a explosão dos casos de invalidez.

"Qualquer acidente de moto pode gerar invalidez porque o motorista é mais vulnerável", afirma Xavier.

De 2001 a 2011, as vendas de motos quase triplicaram, chegando a 1,94 milhão no ano passado. Em 2011, as vendas de carros atingiram 2,65 milhões de unidades, pouco mais que o dobro das de 2001.

O engenheiro e sociólogo Eduardo Vasconcellos diz que a explosão dos casos de invalidez gerados por acidentes com moto representa um prejuízo para os acidentados e para a economia do país.

Ele diz que o cenário de acidentes com motos tende a piorar ainda mais nos próximos anos. "Existe um grande desafio que é o que fazer com as motocicletas."

A preocupação com o problema levou a Previdência a reivindicar participação no Contran (Conselho Nacional de Trânsito) para participar da discussão e da elaboração das políticas de trânsito.



domingo, 15 de janeiro de 2012

É hora do PT se aliar a Kassab?

A iniciativa do Prefeito Gilberto Kassab de procurar Lula e propor uma aliança entre o PSD e o PT nas próximas eleições na Capital, causaram um verdadeiro tremor nas forças políticas da cidade. Tanto os petistas como os tucanos ficaram estupefatos com a proposta do Prefeito que significa um rearranjo geral das forças políticas em disputa.

Kassab propõe romper a aliança que o sustentou na Prefeitura a partir da renúncia de Serra em 2006 para concorrer ao Governo do Estado e que o reelegeu no segundo turno de 2008. Muitos analistas consideraram que a proposta seria apenas pressão sobre os tucanos para que definam logo uma política de alianças na Capital com o PSD, tendo como centro a candidatura de Serra ou de Afif. O que parece ter tido até um certo efeito, o ex-governador Goldman foi aos jornais ressuscitar o nome de Serra, muito abalado pela rejeição dos paulistanos e pelas denúncias contidas no livro Privataria Tucana.

Mas Kassab fez a proposta diretamente a Lula e ainda disse que ele poderia escolher qualquer um dos quadros do PSD para a posição de vice. Portanto, não me parece apenas um jogo de pressão. Na verdade, do meu ponto de vista, está se operando um reposicionamento das forças conservadoras que foram profundamente derrotadas nas eleições de 2010. Esse reposicionamento já ocorreu em outros momentos da história, como no fim da ditadura quando uma parcela da ARENA rompeu com o governo militar, fundou o PFL e participou da chamada Nova República.

A fundação do PSD foi um golpe a mais na profunda agonia do DEM (sucessor do PFL) e no comando do PSDB que contava com essas forças para organizar a oposição à Dilma. Mas é também a possibilidade das forças conservadoras se reorganizarem sem a prática de uma oposição raivosa e buscarem retomar espaços no poder central e estruturar uma futura candidatura à presidência.

O jogo está dado e caberá agora ao PT de São Paulo definir qual a linha a seguir. Acredito que devemos fazer uma profunda avaliação do governo Kassab e da nossa situação na cidade.

Kassab foi eleito prometendo resolver problemas estruturais. Expandir a rede de saúde pública construindo três hospitais, ampliar os corredores com melhores projetos, garantir creche para todas as crianças, melhorar a qualidade de vida na cidade. Ao final de três anos de governo, podemos dizer que essas e muitas outras metas não foram e não serão cumpridas, mesmo com o enorme volume de dinheiro em caixa (R$ 5 bilhões) e com o espetacular aumento de arrecadação dos tributos e multas municipais.

Kassab no seu primeiro mandato se notabilizou pelo "Cidade Limpa" e por obras cosméticas como recapeamento de avenidas. No segundo mandato não deixou marcas positivas. Ao contrário, o abandono da cidade, a falta de limpeza pública, as enchentes, a situação da cracolândia, o aumento dos congestionamentos, os reajustes na tarifa de ônibus, as irregularedades na inspeção veicular, derrubaram a avaliação do seu governo em todos os extratos da população, até mesmo entre os mais ricos que sempre o apoiaram.

Kassab firmou a imagem de hábil articulador político mas também de um prefeito que abandonou a cidade para cuidar de fundar seu partido.

Por outro lado, o PT nesse período só cresceu. Recuperamos nossa votação em diversas zonas eleitorais em 2010. Superamos todos os índices de preferência partidária. Temos uma atuação bastante ampla em todos os setores da vida social. Temos um Governo Federal de Lula e Dilma com recordes de avaliação positiva.

Mas, principalmente, construímos através de um processo político participativo uma candidatura que unificou o Partido. Realizamos mais de 30 plenárias em todos os bairros da cidade. Ouvimos a nossa base e decidimos renovar nossa candidatura com um nome que tem experiência administrativa e realizações profundamente ligadas ao governo do Presidente Lula, que possibilitaram que muito mais jovens pudessem ter acesso a universidade e a uma educação de qualidade.

Em todo esse processo ficou clara a posição política da nossa base. Somos oposição ao governo Kassab. E isso foi reafirmado por todos os pré candidatos, inclusive o companheiro Fernando Hadad que sempre denunciou a falta de empenho do prefeito em firmar parcerias com o Governo Federal, inclusive deixando de receber mais de 100 creches que tanto fazem falta para a nossa população.

Ao aceitarmos a proposta de aliança com Kassab podemos ter o apoio da máquina da prefeitura e reforçar a nossa candidatura para derrotar os tucanos no seu ninho mais forte. Mas como será entendido isso por um povo cada vez mais politizado e posicionado?

Será que nossa base social vai entender uma aliança com um prefeito que não governa para ela? Será que os apoiadores do governo Kassab vão apoiar uma candidatura petista?

É evidente que devemos sempre buscar ampliar nossas alianças para derrotar nosso inimigo principal que é o tucanato, que nos odeia de morte. Mas temos que considerar que a nossa história na cidade de São Paulo, onde governamos por duas vezes sempre com políticas inovadoras, inclusivas e progressistas forjou um eleitorado que vai achar muito estranha essa nova postura.

Vamos construir uma candidatura ampla e com propostas de melhoria efetiva da vida dos paulistanos. Atacar os problemas estruturais que impedem a melhoria da qualidade de vida e de melhoria social do nosso povo. Avançar na educação, na renda e no empreendorismo com o apoio decisivo de uma prefeitura que tem recursos e capacidade de intervir e mudar as coisas.

Temos um Partido forte com política e quadros para governar e melhorar a vida do povo. E temos capacidade de construir alianças com aqueles que estão de verdade ao lado dessas idéias. Vamos nos manter na oposição e construir um novo momento histórico na cidade de São Paulo.

Transporte rápido e rios limpos: os sonhos dos paulistanos para 2040

A pesquisa da Prefeitura de São Paulo confirma o que já vinhamos debatendo no nosso Movimento São Paulo Mais Barata. A necessidade de transporte rápido e eficiente e a limpeza dos rios paulistanos. Nossos participantes estão "antenados"!


Transporte rápido e rios limpos: os sonhos dos paulistanos para 2040

Prefeitura perguntou a 25 mil moradores como SP deve ser; respostas devem orientar políticas públicas

12 de janeiro de 2012
 
O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - O maior desejo do paulistano para o futuro é ter uma cidade com transporte rápido e trânsito livre. E voltar a viver em harmonia com os rios que cortam a capital - sobretudo o Pinheiros e o Tietê. Pelo menos essas foram as duas prioridades mais votadas no questionário respondido por 25,3 mil pessoas, em consulta pública do projeto SP2040 - a cidade que queremos.

José Patrício/AE

Mais mobilidade e menos trânsito, um dos desejos do paulistanosA consulta - uma etapa do plano de desenvolvimento urbano criado pela Prefeitura em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) - começou em setembro e teve os resultados divulgados nesta quinta-feira. A pesquisa indica que os moradores de São Paulo querem um cidade fluida, principalmente quando se trata de mobilidade urbana (25%), sustentável (20%) e justa (15%).

Os principais projetos desejados, que ajudariam a atingir tais objetivos, são a "cidade de 30 minutos" (20,1%) - em que o tempo médio de qualquer deslocamento dentro da capital duraria no máximo meia hora -, o "rios vivos" (19,9%), de revitalização dos córregos urbanos, e o "comunidades" (17%), de urbanização e acesso a cultura e lazer em qualquer ponto da cidade, inclusive favelas.

"Os rios vão ser recuperados mesmo, porque não é possível tirar toda a carga poluidora. Mas serão rios com uma boa cor na água, em alguns teremos vida. As pessoas querem que os rios voltem a ser parte da paisagem", diz o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, para quem será primordial investir em transporte público de massa.

Futuro. Em 30 anos, o governo deveria ainda prover infraestrutura adequada (23%), recuperar a qualidade ambiental (21%) e aproximar moradia e emprego (21%) de quem vive na capital. O SP2040 prevê que um documento seja formalizado para orientar as políticas públicas municipais para que a cidade alcance os objetivos traçados agora. Mas, apesar de a aprovação do planejamento de longo prazo ser de 93%, somente 49% creem que ele se tornará realidade.

Para garantir que o plano seja seguido pelos próximos sete governos municipais, 22 entidades da sociedade civil, como o Movimento Defenda São Paulo, foram convocadas a integrar um conselho consultivo.

"Essa questão (o cumprimento dos objetivos) está muito ligada ao engajamento da sociedade. O monitoramento é o que pode dar respaldo para que um plano de 30 anos se torne realidade e direcione as transformações necessárias", diz Bucalem. "A apropriação do plano pela cidade é fundamental."
 
A pesquisa. A maior parte dos participantes respondeu ao questionário pela internet: foram 12.654 formulários preenchidos. Em seguida, vieram as respostas dadas em tablets distribuídos em pontos fixos da cidade. Também foram ouvidas pessoas em grandes aglomerações, como parques, terminais do Metrô e da CPTM, além de aeroportos e Centros Educacionais Unificados (CEUs).

Por região da cidade, a que teve maior participação de moradores engajados na consulta foi a zona leste, com 29%, seguida pela zonas sul, com 25%, e oeste, com 22%. O perfil da pesquisa indica ainda que das mais de 25 mil pessoas, 43% tinham curso superior completo e 33% eram pós-graduadas. Apenas 1% tinha somente o Ensino Fundamental.


O povo resiste à remoção em São José dos Campos

São Paulo mais cara que Nova York

Como temos destacado muitas vezes aqui, o custo de vida em São Paulo tem se elevado muito. A matéria do jornal O Estado de São Paulo deste domingo ressalta isso (Leia também a segunda matéria), mas dá mais peso à questão cambial. No nosso modo de ver essa é apenas uma causa. O custo de viver em São Paulo é maior também que a maioria das cidades brasileiras e muito se deve à ineficiência da administração pública e à especulação imobiliária.

Custo de vida do Brasil supera o dos EUA

14 de janeiro de 2012

RIO - O custo de vida do Brasil superou o dos Estados Unidos em 2011, quando medido em dólares, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o PIB dos 187 países-membros. Este fato é extremamente anormal para um país emergente. Em uma lista do FMI de 150 países em desenvolvimento, o Brasil é praticamente o único cujo custo de vida supera o americano em 2011, o que significa dizer que é o mais caro em dólares de todo o mundo emergente.

Na verdade, há outros quatro casos semelhantes, mas referentes a São Vicente e Granadinas, um arquipélago minúsculo; Zimbábue, país cheio de distorções, onde a hiperinflação acabou com a moeda nacional; e Emirados Árabes Unidos e Kuwait, de população muito pequena, gigantesca produção de petróleo e renda per capita de país rico.

Considerando economias diversificadas como o Brasil, contam-se nos dedos, desde 1980, os episódios em que qualquer um de mais de cem países emergentes apresentasse, em qualquer ano, um custo de vida (convertido para dólares) superior ao dos Estados Unidos.

Há uma explicação para isso. O preço da maioria dos produtos industriais tende a convergir nos diferentes países, descontadas as tarifas de importação. Isso ocorre porque eles podem ser negociados no mercado internacional, e, caso estejam caros demais em um país, há a possibilidade de importar. Mas a maioria dos serviços, de corte de cabelo a educação e saúde, não fazem parte do comércio exterior. Assim, eles divergem muito em preço entre os países.

Em nações ricas, com salários altos, os serviços geralmente são muito mais caros do que nos emergentes. Isso se explica tanto pelo fato de que a renda maior tende a puxá-los para cima, como pelo fato de que a mão de obra empregada no setor de serviços recebe muito mais e representa um custo maior. Dessa forma, é principalmente o setor de serviços que faz com que o custo de vida seja mais alto no mundo avançado. Na comparação com os Estados Unidos, os países emergentes são quase sempre mais baratos.

É por isso que espanta que o Brasil apareça como mais caro do que os EUA nas tabelas de projeções do PIB de 2011 do FMI. "Essa inversão mostra que as coisas estão fora do padrão, porque a taxa de câmbio está completamente fora do padrão histórico, com uma valorização gigantesca nos últimos anos", diz o economista Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio.

O custo de vida relativo dos países pode ser derivado da comparação entre as estimativas do FMI para o PIB em dólares correntes e o PIB ajustado pela paridade de poder de compra (PPP). Esse segundo método busca neutralizar - ao se fazer o cálculo do PIB - a diversidade dos preços, convertidos para dólares, dos mesmos produtos em diferentes países.


Serviços pesam mais no bolso em SP do que em NY

Preços de atividades simples, como ir à academia ou almoçar fora, assustam os turistas e também quem trocou os EUA pelo Brasil

14 de janeiro de 2012

NOVA YORK - Um morador de Nova York, ao acordar no domingo para ir à academia Reebok, almoçar um hambúrguer com um vinho chileno Casillero del Diablo no PJ Clarke’s, assistir a um filme no cinema no Lincoln Center, checar os emails no iPad tomando um café, pegar um táxi e encerrar o dia em um show de jazz terá um gasto menor do que um paulista fazendo programas similares em São Paulo.

Andrew Sullivan/

NYTAcademia em Nova York é mais barata que em São Paulo

E isso inclui ir ao mesmo restaurante (PJ Clarke’s, com filial no Itaim), beber o mesmo vinho e frequentar a academia da mesma marca (Reebok). Apenas os gastos com aluguel e anuidade escolar tendem a ser bem maiores em Nova York do que em São Paulo. Porém, em outras partes dos Estados Unidos, depois da crise imobiliária de 2008, mesmo os preços dos imóveis estão muitas vezes abaixo dos do Brasil. Esta diferença fez com que os brasileiros se tornassem a nacionalidade que mais compra apartamentos e casas na Flórida depois dos americanos.

"São Paulo cada vez me assusta mais. Ir a um bom restaurante por lá custa bem mais caro do que aqui em Nova York. Isso se aplica a um bom japonês e até mesmo a churrascarias", afirma o executivo Raphael Quintella, que vive nos Estados Unidos há cinco anos e sempre viaja ao Brasil a trabalho. "Um tempo atrás, fui ao Peter Lugar (um dos mais tradicionais de Nova York) e gastei US$ 70. Este valor já é considerado bem alto nos EUA. Porém outro dia almocei no Rodeio, em São Paulo, com um colega americano de trabalho e a conta saiu US$ 100 por pessoa."

Miguel Archanjo, que se mudou recentemente para São Paulo depois de três anos em Nova York, ficou assustado com os preços nas lojas. "Um óculos de natação da Speedo que comprei nos EUA estava cinco vezes mais caro aqui (em São Paulo)", lembra. O economista também diz que a taxa do cartão de crédito "que eu pagava em um ano em Nova York equivale a um mês no Brasil". Sua mulher, a auditora Carolina, que acabou ter uma filha, cita também diferenças nos preços de carrinhos e cadeiras de bebê. "Não é à toa que muita gente de São Paulo viaja para Nova York para comprar o enxoval." Nos últimos anos, brasileiras têm ido aos Estados Unidos para comprar vestido de noiva.

Transporte. A nutricionista Juliana Castro diz ser difícil comparar as duas cidades em alguns pontos. "Aqui eu ando de metrô e, em São Paulo, usava carro", diz. Ter um cachorro pode ser bem mais barato nos Estados Unidos, quando se leva em conta os preços de produtos para cães. No entanto, os serviços para pets ainda são mais baratos em São Paulo: "No Brasil, gastava R$ 20 para dar um banho na Mel, minha cadela. Em Nova York, custa mais de US$ 50", afirma.

O consultor Paulo Kluber, que vive nos Estados Unidos há 20 anos, viaja ao Brasil quase todos os meses e reclama dos preços para estrangeiros em São Paulo. "Os hotéis, os táxis e mesmo as lembrancinhas nos aeroportos são muito caros."

O professor de linguística Ricardo Gualda voltou a morar no Brasil em 2011, após sete anos nos Estados Unidos e se surpreendeu com a diferença de preços ao mobiliar a casa. Comprou uma mesa e seis cadeiras por R$ 2,4 mil. Segundo ele, um mobiliário igual em Nova York sairia pelo equivalente a R$ 1.000.

Ele lembra que, em 2004, pagou "uma mixaria" pelo carro Mitsubishi Eclipse ano 1994: US$ 1,5 mil. Vendeu pelo mesmo valor em 2008. "O carro era velho, mas estava em bom estado. No Brasil acho que eu compraria um fusca 1970 com esse dinheiro", brinca.

Imóveis. Um apartamento de dois quartos de 100 metros quadrados no Upper West Side, de Nova York, ainda pode sair pelo triplo do preço de um imóvel equivalente em São Paulo (veja tabela ao lado).

Mas o advogado Marcello Hallake, que em 2012 virá morar na capital paulista depois de 19 anos nos Estados Unidos, lembra que os juros americanos são bem mais baixos - é possível financiar uma residência em 30 anos, pagando 3% ao ano. No Brasil, o prazo médio do crédito imobiliário é de 13 anos, com taxa média de 12% ao ano, segundo o Banco Central.

Hallake, que vive entre Nova York e São Paulo, observa que é recente essa alta relativa dos preços no País. "Alguns anos atrás, eu comprava roupas no Brasil, mas agora ficaram muito mais caras. Quase tudo agora é mais vantajoso comprar nos EUA."

A anuidade em uma escola como a Ethical Culture School, em Nova York, sai por R$ 66 mil, o equivalente a R$ 5,5 mil mensais. Em São Paulo, o Colégio Santa Cruz cobrava no ano passado uma mensalidade de até R$ 1.790, segundo uma pesquisa da publicação Guia Escola.