Como temos destacado muitas vezes aqui, o custo de vida em São Paulo tem se elevado muito. A matéria do jornal O Estado de São Paulo deste domingo ressalta isso (Leia também a segunda matéria), mas dá mais peso à questão cambial. No nosso modo de ver essa é apenas uma causa. O custo de viver em São Paulo é maior também que a maioria das cidades brasileiras e muito se deve à ineficiência da administração pública e à especulação imobiliária.
Custo de vida do Brasil supera o dos EUA
14 de janeiro de 2012
RIO - O custo de vida do Brasil superou o dos Estados Unidos em 2011, quando medido em dólares, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o PIB dos 187 países-membros. Este fato é extremamente anormal para um país emergente. Em uma lista do FMI de 150 países em desenvolvimento, o Brasil é praticamente o único cujo custo de vida supera o americano em 2011, o que significa dizer que é o mais caro em dólares de todo o mundo emergente.
Na verdade, há outros quatro casos semelhantes, mas referentes a São Vicente e Granadinas, um arquipélago minúsculo; Zimbábue, país cheio de distorções, onde a hiperinflação acabou com a moeda nacional; e Emirados Árabes Unidos e Kuwait, de população muito pequena, gigantesca produção de petróleo e renda per capita de país rico.
Considerando economias diversificadas como o Brasil, contam-se nos dedos, desde 1980, os episódios em que qualquer um de mais de cem países emergentes apresentasse, em qualquer ano, um custo de vida (convertido para dólares) superior ao dos Estados Unidos.
Há uma explicação para isso. O preço da maioria dos produtos industriais tende a convergir nos diferentes países, descontadas as tarifas de importação. Isso ocorre porque eles podem ser negociados no mercado internacional, e, caso estejam caros demais em um país, há a possibilidade de importar. Mas a maioria dos serviços, de corte de cabelo a educação e saúde, não fazem parte do comércio exterior. Assim, eles divergem muito em preço entre os países.
Em nações ricas, com salários altos, os serviços geralmente são muito mais caros do que nos emergentes. Isso se explica tanto pelo fato de que a renda maior tende a puxá-los para cima, como pelo fato de que a mão de obra empregada no setor de serviços recebe muito mais e representa um custo maior. Dessa forma, é principalmente o setor de serviços que faz com que o custo de vida seja mais alto no mundo avançado. Na comparação com os Estados Unidos, os países emergentes são quase sempre mais baratos.
É por isso que espanta que o Brasil apareça como mais caro do que os EUA nas tabelas de projeções do PIB de 2011 do FMI. "Essa inversão mostra que as coisas estão fora do padrão, porque a taxa de câmbio está completamente fora do padrão histórico, com uma valorização gigantesca nos últimos anos", diz o economista Armando Castelar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio.
O custo de vida relativo dos países pode ser derivado da comparação entre as estimativas do FMI para o PIB em dólares correntes e o PIB ajustado pela paridade de poder de compra (PPP). Esse segundo método busca neutralizar - ao se fazer o cálculo do PIB - a diversidade dos preços, convertidos para dólares, dos mesmos produtos em diferentes países.
Serviços pesam mais no bolso em SP do que em NY
Preços de atividades simples, como ir à academia ou almoçar fora, assustam os turistas e também quem trocou os EUA pelo Brasil
14 de janeiro de 2012
NOVA YORK - Um morador de Nova York, ao acordar no domingo para ir à academia Reebok, almoçar um hambúrguer com um vinho chileno Casillero del Diablo no PJ Clarke’s, assistir a um filme no cinema no Lincoln Center, checar os emails no iPad tomando um café, pegar um táxi e encerrar o dia em um show de jazz terá um gasto menor do que um paulista fazendo programas similares em São Paulo.
Andrew Sullivan/
NYTAcademia em Nova York é mais barata que em São Paulo
E isso inclui ir ao mesmo restaurante (PJ Clarke’s, com filial no Itaim), beber o mesmo vinho e frequentar a academia da mesma marca (Reebok). Apenas os gastos com aluguel e anuidade escolar tendem a ser bem maiores em Nova York do que em São Paulo. Porém, em outras partes dos Estados Unidos, depois da crise imobiliária de 2008, mesmo os preços dos imóveis estão muitas vezes abaixo dos do Brasil. Esta diferença fez com que os brasileiros se tornassem a nacionalidade que mais compra apartamentos e casas na Flórida depois dos americanos.
"São Paulo cada vez me assusta mais. Ir a um bom restaurante por lá custa bem mais caro do que aqui em Nova York. Isso se aplica a um bom japonês e até mesmo a churrascarias", afirma o executivo Raphael Quintella, que vive nos Estados Unidos há cinco anos e sempre viaja ao Brasil a trabalho. "Um tempo atrás, fui ao Peter Lugar (um dos mais tradicionais de Nova York) e gastei US$ 70. Este valor já é considerado bem alto nos EUA. Porém outro dia almocei no Rodeio, em São Paulo, com um colega americano de trabalho e a conta saiu US$ 100 por pessoa."
Miguel Archanjo, que se mudou recentemente para São Paulo depois de três anos em Nova York, ficou assustado com os preços nas lojas. "Um óculos de natação da Speedo que comprei nos EUA estava cinco vezes mais caro aqui (em São Paulo)", lembra. O economista também diz que a taxa do cartão de crédito "que eu pagava em um ano em Nova York equivale a um mês no Brasil". Sua mulher, a auditora Carolina, que acabou ter uma filha, cita também diferenças nos preços de carrinhos e cadeiras de bebê. "Não é à toa que muita gente de São Paulo viaja para Nova York para comprar o enxoval." Nos últimos anos, brasileiras têm ido aos Estados Unidos para comprar vestido de noiva.
Transporte. A nutricionista Juliana Castro diz ser difícil comparar as duas cidades em alguns pontos. "Aqui eu ando de metrô e, em São Paulo, usava carro", diz. Ter um cachorro pode ser bem mais barato nos Estados Unidos, quando se leva em conta os preços de produtos para cães. No entanto, os serviços para pets ainda são mais baratos em São Paulo: "No Brasil, gastava R$ 20 para dar um banho na Mel, minha cadela. Em Nova York, custa mais de US$ 50", afirma.
O consultor Paulo Kluber, que vive nos Estados Unidos há 20 anos, viaja ao Brasil quase todos os meses e reclama dos preços para estrangeiros em São Paulo. "Os hotéis, os táxis e mesmo as lembrancinhas nos aeroportos são muito caros."
O professor de linguística Ricardo Gualda voltou a morar no Brasil em 2011, após sete anos nos Estados Unidos e se surpreendeu com a diferença de preços ao mobiliar a casa. Comprou uma mesa e seis cadeiras por R$ 2,4 mil. Segundo ele, um mobiliário igual em Nova York sairia pelo equivalente a R$ 1.000.
Ele lembra que, em 2004, pagou "uma mixaria" pelo carro Mitsubishi Eclipse ano 1994: US$ 1,5 mil. Vendeu pelo mesmo valor em 2008. "O carro era velho, mas estava em bom estado. No Brasil acho que eu compraria um fusca 1970 com esse dinheiro", brinca.
Imóveis. Um apartamento de dois quartos de 100 metros quadrados no Upper West Side, de Nova York, ainda pode sair pelo triplo do preço de um imóvel equivalente em São Paulo (veja tabela ao lado).
Mas o advogado Marcello Hallake, que em 2012 virá morar na capital paulista depois de 19 anos nos Estados Unidos, lembra que os juros americanos são bem mais baixos - é possível financiar uma residência em 30 anos, pagando 3% ao ano. No Brasil, o prazo médio do crédito imobiliário é de 13 anos, com taxa média de 12% ao ano, segundo o Banco Central.
Hallake, que vive entre Nova York e São Paulo, observa que é recente essa alta relativa dos preços no País. "Alguns anos atrás, eu comprava roupas no Brasil, mas agora ficaram muito mais caras. Quase tudo agora é mais vantajoso comprar nos EUA."
A anuidade em uma escola como a Ethical Culture School, em Nova York, sai por R$ 66 mil, o equivalente a R$ 5,5 mil mensais. Em São Paulo, o Colégio Santa Cruz cobrava no ano passado uma mensalidade de até R$ 1.790, segundo uma pesquisa da publicação Guia Escola.
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