Ministro da Educação diz que disputa pela Prefeitura de São Paulo não será agressiva como a eleição de 2010 e afirma que prioridade de Gilberto Kassab é se unir ao PSDB de José Serra
20 de janeiro de 2012
22h 30
O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Às vésperas de deixar o Ministério da Educação, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que fará uma campanha sem ataques, mas não deixou de dar estocadas nos tucanos. "Eu não vou oferecer a São Paulo o espetáculo de difamação promovido em 2010 pelo PSDB", disse, numa referência à disputa presidencial entre Dilma Rousseff e o ex-governador José Serra, marcada por insultos. "A campanha de 2010 deve nos servir de lição para afastar a deselegância e o mau gosto."
Andre DuseK-AE
‘Por mais ataques pessoais que eu tenha recebido, não devolverei’, diz HaddadDilma preparou uma solenidade de despedida para Haddad na segunda-feira, no Palácio no Planalto, quando será anunciada a concessão da milionésima bolsa do ProUni. Pesquisa interna em poder do PT indica que uma chapa formada por Haddad e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PSD), seria imbatível, mas o ministro não parece empolgado com a aliança proposta pelo prefeito Gilberto Kassab.
Na quinta-feira, Haddad teve longa conversa com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que lançou a candidatura do deputado Gabriel Chalita. "Ele expressou a vontade de manter o PT e o PMDB unidos em torno de um projeto nacional", disse. O ministro desconversou sobre a decisão de Serra de não entrar no páreo e, ao abordar os problemas do Enem, insinuou que o PSDB tem como calcanhar de Aquiles as privatizações de empresas estatais.
O sr. nunca disputou uma eleição, é pouco conhecido entre eleitores de SP e tem só 4% das intenções de voto nas pesquisas. A fórmula da "cara nova" na política, que elegeu Dilma Rousseff, pode beneficiá-lo?
Reconheço a importância das pesquisas, mas quase um ano antes é preciso relativizar os números. A política tem de ser convidativa para as pessoas comuns, fugir dos estereótipos. Talvez essa eleição em São Paulo contribua para isso, porque todos os partidos planejam lançar candidatos novos.
O que o sr. fará para não parecer teleguiado pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma?
Essa mesma acusação se fez à presidenta Dilma. É mais um dogma que precisa ser quebrado. A colaboração que podemos dar é mostrar que as pessoas não devem se impressionar com esses rótulos. É um discurso conservador.
O secretário de Cultura, Andrea Matarazzo (PSDB), considerou "apavorante" sua ideia de reinventar São Paulo e foi irônico ao afirmar que nem pode imaginar o sr. usando na cidade a mesma técnica aplicada no Enem. Como o sr. responde a isso?
Graças ao Enem, nós vamos conceder, na segunda-feira, a milionésima bolsa a alunos da escola pública pelo Programa Universidade para Todos (ProUni). Estamos promovendo a maior inclusão na educação superior da história do País. Eu não pretendo responder a agressões pessoais. A campanha de 2010 deve nos servir de lição para afastar a deselegância e o mau gosto.
O ex-governador José Serra, que protagonizou duros embates com a então candidata Dilma em 2010, anunciou estar fora da disputa. Isso é bom para o PT?
Essa é uma questão do PSDB. Não nos afeta.
Mas ele é considerado um candidato forte...
E tem uma dose forte de rejeição. De qualquer forma, não faço esse tipo de cálculo.
O sr. não teme ser conhecido como o candidato dos erros do Enem?
Pode ser que seja essa a linha dos nossos adversários. Há uma tentativa de desgastar um projeto que tem 80%, 90% de aprovação, como o Enem. Da mesma maneira que tentaram macular o Bolsa Família, o PAC, o ProUni, vão tentar macular o Enem. Agora, não há no mundo um exame nacional do ensino médio que não passe pelos problemas que enfrentamos aqui. As tentativas de fraude foram abortadas pela Polícia Federal. Na China houve problemas, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França.
O novo Enem está no 3º ano e em todos eles houve problemas. Não era possível prever falhas?
Mas nós vamos ficar falando só de Enem? Há quantos anos existe o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que tem 2% do tamanho do Enem? A Polícia Federal apurou fraude em cinco edições.
O sr. não conseguiu conquistar aliados de peso até agora. O PMDB apresentou o deputado Gabriel Chalita como candidato, o PDT e o PC do B também têm concorrentes... Como reverter esse quadro de divisão na base?
Mas quem conseguiu apoio a essa altura? Está tudo muito no começo. Não vi nenhuma aliança ser fechada. Estão todos buscando entendimentos.
O sr. ainda gostaria de ter Gabriel Chalita como vice?
Eu não quero ser desrespeitoso com pretensões legítimas. São pessoas que têm projetos convergentes com os nossos. Se das conversas resultar uma aliança no primeiro turno, bem. Caso contrário, vamos buscar entendimento no segundo turno. Ontem (quinta-feira), por exemplo, tive uma conversa com o presidente Michel Temer sobre o quadro de São Paulo. Ele me disse que tem muito respeito por minha candidatura. É um homem sereno, maduro e expressou a vontade de manter o PT e o PMDB unidos em torno de um projeto nacional.
Sua ideia é fazer um pacto de não agressão com os partidos aliados do governo Dilma?
Não preciso fazer pacto com ninguém. Eu não vou oferecer a São Paulo o espetáculo de difamação promovido em 2010 pelo PSDB. Destruir a reputação das pessoas não é minha prática, nunca foi. Por mais ataques pessoais que eu tenha recebido, não devolverei.
Por que o sr. não se entusiasma com a proposta do prefeito Gilberto Kassab de apresentar um nome do PSD para seu vice, já que Lula defende a aliança?
O prefeito foi claro em sua estratégia de curto prazo, que é buscar uma aliança com Serra. Embora ele tenha sinalizado simpatia por outra alternativa e elogiado o PT, deixou claro que a perspectiva era outra. Penso que o prefeito está estudando cenários. Devemos receber com naturalidade um gesto de generosidade e simpatia. Você ganha a eleição assim, angariando apoio, independentemente de aliança eleitoral.
Não é contraditório o PT se aliar ao PSD em São Paulo, já que faz oposição a Kassab ?
O PT, nesse momento, está buscando entendimento com partidos da base aliada da presidenta Dilma.
Mas o PSD, hoje, é quase como se fosse da base de Dilma...
(Risos). Ele tem feito gestos importantes de aproximação, embora se declare independente.
O julgamento dos réus do mensalão, previsto para este ano, pode atrapalhar sua campanha?
Não acredito nisso. Hoje, as instituições funcionam livremente para apurar responsabilidades e dosar a pena de acordo com o erro cometido. Há denúncias para todo lado. Não gosto da expressão mensalão, mas tem o julgamento do mensalão do PSDB em Minas, do DEM no Distrito Federal. Não sei se haverá apuração dessas recentes denúncias sobre o processo de privatização, se o Ministério Público se envolverá nisso...
O sr vai atacar as privatizações do PSDB na campanha?
Não da forma como você está falando. A questão central é a da saúde. Existe essa proposta do governo do Estado de privatizar leitos do SUS para planos de saúde. Eu sou contrário a isso. Há também um aspecto importante, na cidade de São Paulo, que é o das concessões urbanísticas. Precisamos cuidar para não deixar sair dos trilhos. Temos de repensar o planejamento urbano.
A senadora Marta Suplicy foi obrigada a retirar a pré-candidatura para apoiá-lo, mas até agora não demonstra entusiasmo de entrar em sua campanha. É possível curar essas feridas?
A ideia de que no PT alguém foi obrigado a retirar a candidatura não tem como prosperar.
Ela foi pressionada e disse que ficou frustrada...
Até o presidente Lula já participou de prévia no PT. Tem um pouco de fantasia e dramaticidade nisso. Na conversa que tive com a senadora, a quem respeito muito - acho que foi uma grande prefeita -, ela demonstrou total disposição de colaborar com a campanha.
O sr. está contando com isso?
Conto com o partido todo, com os partidos aliados, com o presidente Lula, com a presidenta Dilma... A pior coisa do mundo é você esconder quem o apoia. Isso é o feio na política...
O sr está falando de quem? O PT diz que o ex-governador Serra escondeu o ex-presidente Fernando Henrique em 2010.
Você acha isso? Estou falando em tese (risos).
E o sr. não vai se esconder atrás do ex-presidente Lula e da presidente Dilma?
Não existe eleição de quem não se apresenta. Nem o candidato pode se esconder nem os seus apoiadores. Se não, tem uma coisa errada com a campanha.
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