Pela primeira vez nesta eleição para a Prefeitura de São Paulo, o candidato do PRB, Celso Russomanno, teve queda real, fora da margem de erro, em sua intenção de voto. Mesmo assim, continua na liderança da disputa municipal, com 30% da preferência, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem. Russomanno caiu cinco pontos percentuais em sete dias, período em que virou alvo preferencial dos adversários na propaganda eleitoral e nos discursos.
O candidato do PRB já tinha oscilado negativamente em pesquisa anterior, de 35% para 32%, mas estava dentro da margem de erro, que era de três pontos percentuais - na sondagem seguinte, ele retornou aos 35%. Desta vez, porém, o recuo foi além da margem de erro de dois pontos percentuais.
O Datafolha também reforçou a briga para disputar o segundo turno. José Serra (PSDB) registrou 22% de intenção de voto, empatado tecnicamente com Fernando Haddad (PT), que tem 18%. Em relação à pesquisa anterior, feita nos dias 18 e 19 de setembro, o petista cresceu três pontos - tinha 15% - e o tucano oscilou um para cima - tinha 21%.
A pesquisa do instituto diverge dos números apurados pelo Ibope de quarta-feira, que mostrou o petista na frente, embora dentro da margem de erro, com 18% a 17%.
Ainda de acordo com o Datafolha, Gabriel Chalita (PMDB) está com 9% e Soninha Francine (PPS), com 4%. Os votos em branco e nulo somam 8%, e 6% dos entrevistados disseram estar indecisos ou não responderam. O instituto também simulou o segundo turno. Russomanno aparece com folga na frente dos principais concorrentes. Contra o petista, vence por 49% a 34%. Na disputa com o tucano, o candidato do PRB aparece com 50%, contra 34% de Serra. No quesito rejeição, Serra oscilou mais um ponto percentual para cima e está com 45%. Dos entrevistados, 24% disseram que não votariam em Haddad e 22% em Russomanno.
Os números do Datafolha acenderam o sinal de alerta no comando da campanha do PRB, que pretende blindar Russomanno até o fim do primeiro turno. Sua equipe tenta evitar derrapadas para não perder a preferência dos eleitores. Até semana passada, a agenda de Russomanno tinha até seis atividades de campanha por dia e agora esse número deve ser reduzido a dois eventos, alguns não divulgados à imprensa.
Na quinta-feira, por exemplo, o candidato do PRB participou da feira Expocristã e, segundo sua assessoria, não comunicou à imprensa para "evitar constrangimentos". Ele está no meio de uma polêmica religiosa, já que os principais dirigentes de seu partido são ligados à Igreja Universal do Reino de Deus, o que tem incomodado a Igreja Católica. Nos últimos dias, Russomanno ainda sofreu constrangimentos ao ser questionado por eleitores sobre seu vínculo com a igreja neopentecostal, por suas votações quando era deputado federal, como a posição em relação à Lei da Ficha Limpa, além do fato do seu plano de governo ser coordenado por um "laranja", que se identifica com nome falso e tem funções secundárias em sua campanha.
Russomanno disse que não queria responder perguntas de jornalistas sobre a questão e depois limitou-se a afirmar que o nome "fantasia" do funcionário foi adotado para preservá-lo de uma eventual perseguição do prefeito Gilberto Kassab (PSD). O comando da campanha do PRB avaliou que foi um erro ter mudado o nome do coordenador, apesar de Russomanno ter dito que essa foi uma estratégia adotada para proteger de perseguição pessoas que trabalham tanto em sua campanha como no governo municipal.
Ao mesmo tempo, Russomanno iniciou uma ofensiva ao PT. Nas inserções veiculadas na televisão, a campanha tem rebatido ataques de Haddad. Em princípio, as críticas estão concentradas no PT, poupando o PSDB.
Serra, por sua vez, intensificou as críticas ao PT ao caminhar pelo comércio da rua José Paulino, no Bom Retiro, zona norte da capital. O tucano acusou o governo federal de adotar uma política "frouxa" no combate às drogas. Como exemplo, citou a falta de fiscalização na fronteira com a Bolívia e a omissão do Ministério da Saúde nos programas de auxílio aos dependentes. Apesar de nacionalizar o discurso, a crítica tem como alvo Haddad e a "linha petista de governar".
Ao longo da caminhada, Serra foi surpreendido ao receber um beijo na boca de uma eleitora. "É a primeira vez, faço campanha há muito tempo, nunca aconteceu isso de me pegar distraído", disse.
Já Haddad visitou a unidade central do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) na capital e retomou as críticas ao adversário do PRB pela falta de programa de governo. "Até hoje, passados 30 dias do início do horário eleitoral, ele não se comprometeu com hospitais, pronto-socorro, postos de saúde, corredores de ônibus e escolas". O petista prometeu adotar helicópteros para atendimentos graves na rede pública de saúde. "O aeromédico salvaria muitas vidas a um baixo custo". Segundo Haddad, cada helicóptero custaria R$ 200 mil por mês, com R$ 50 mil pagos pelo governo federal.
À noite, o ex-ministro participou de ato com seu padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no auditório da universidade UniNove. No evento, Lula afirmou que Serra pratica "jogo rasteiro" ao tentar vincular Haddad ao julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente orientou bolsistas do ProUni e militantes da juventude do PT, presentes ao ato, a se defenderem das críticas.
"Mais uma vez, aquele mesmo senhor que ofendeu a [presidente] Dilma [Rousseff], agora tenta vincular o Fernando Haddad a um julgamento de processo na Suprema Corte. Essas pessoas vocês têm que ter orgulho, não tem que ficar com vergonha, porque no nosso governo as pessoas são julgadas e apuradas, não é como no deles [PSDB]", afirmou. Foi a primeira vez, desde o início do julgamento do mensalão em agosto, que Lula se manifestou sobre o processo, que tem condenado políticos importantes de seu primeiro governo.
Fonte: Valor Econômico -