Firma de ex-dirigente eleva contratos com Sabesp
8 de agosto de 2011 19h25
Seuaciuc deixou a Sabesp em março para voltar à Vitalux (Foto: Divulgação)
FABIO LEITE
FABIO SERAPIÃO
Mais um ex-dirigente da Sabesp viu os contratos de sua empresa com a estatal paulista aumentarem no período em que trabalhou na companhia. Entre 2007 e 2010, quando o engenheiro Nilton Seuaciuc deixou a Vitalux Eficiência Energética para atuar na Sabesp, os negócios da consultoria com a empresa de saneamento do governo cresceram 250%.
Seuaciuc saiu da Vitalux em março de 2007. Até então, a consultoria dele, especializada em redução de perda de água e energia, tinha dois contratos com a Sabesp no valor de R$ 6,7 milhões. Desde maio daquele ano, quando Seuaciuc já era assessor executivo do diretor metropolitano da estatal, Paulo Massato, a Vitalux assinou R$ 23,6 milhões em negócios (diretos ou em consórcio com outras firmas) com a Sabesp.
Em 2009, o engenheiro assumiu a então recém-criada Superintendência da Novos Negócios da Sabesp, que deixou em fevereiro deste ano. No mês seguinte, ele voltou a ser sócio da Vitalux. “Eu não estava lá para ajudar a empresa. Ela nem precisava de ajuda”, afirma Seuaciuc, que disse não ter intercedido em nenhum dos contratos da Vitalux enquanto esteve na Sabesp (leia abaixo).
Trajetória
O caminho percorrido entre o setor público e o privado por Seuaciuc é semelhante ao do ex-diretor da Sabesp Umberto Semeghini. Conforme o Jornal da Tarde revelou em julho, Semeghini saiu da Gerentec Engenharia em janeiro de 2007 para assumir a Diretoria de Sistemas Regionais da estatal. Desde então, a Gerentec elevou em 187% seus negócios com a Sabesp. Em janeiro deste ano, ele deixou a companhia para voltar à empresa de consultoria. Ele disse não haver conflito de interesses.
Entretanto, a relação de Seuaciuc com Semeghini antecede o trabalho conjunto na Sabesp. Em 1999, os dois engenheiros foram contratados pela estatal em um consórcio de R$ 9 milhões da Gerentec com a BBL Engenharia (ex-empresa de Seuaciuc) e a Saenge Engenharia, do empresário Luiz Arnaldo Mayer, que chegou a ser preso em maio no suposto esquema de fraude em licitações da Sanasa, companhia de saneamento de Campinas.
Mayer é filiado ao PSDB da capital e foi flagrado em escutas do Ministério Público Estadual (MPE) nas quais ele se mostra preocupado com o rumo de seus negócios na Sabesp. Ainda nos diálogos, ele cita outros três tucanos, entre eles o secretário de Desenvolvimento Metropolitano Edson Aparecido, que estariam intercedendo em seu favor na estatal. Todos negam envolvimento com Mayer.
Ligações políticas
A relação da Vitalux com ex-dirigentes da Sabesp extrapola o campo dos negócios. Em 2006, um dos sócios da empresa, Eduardo Moreno, doou R$ 10 mil à campanha do ex-deputado estadual Rodolfo Costa e Silva (PSDB), ex-diretor da Sabesp que era considerado o representante do setor na Assembleia Legislativa, mas não concorreu à reeleição e hoje é assessor do secretário Edson Aparecido.
Fora das eleições de 2010, Rodolfo apoiou para substituí-lo seu colega de Sabesp José Boranga (PSDB), que também teve ajuda da Vitalux (R$ 30 mil). O tucano, porém, não alcançou 50 mil votos e não se elegeu. Sem mandato, foi nomeado assessor especial da presidente da Sabesp, Dilma Pena.
O ex-deputado não é o único integrante da família Costa e Silva a ocupar cargo em órgãos do governo. Um de seus primos, Antônio César Costa e Silva, já foi superintendente da Unidade de Negócios Leste da Sabesp e, hoje, é assessor do diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente, Marcelo Salles Holanda de Freitas. Na superintendência, ele foi responsável pela licitação de um dos contratos da Vitalux, no valor R$ 4,8 milhões.
Além de ocupar o cargo público, ele é sócio em uma empresa de engenharia com Pedro Ibrahim Hallack, também ex-diretor da Sabesp e atual diretor da Camargo Correa. Ao lado de Luiz Mayer, Hallack foi um dos empresários detidos em 20 de maio suspeito de participar do suposto esquema de fraudes em licitações de Campinas.
‘Não intercedi’
Em entrevista no escritório da Vitalux, o engenheiro Nilton Seuaciuc afirmou que “em nenhum momento” do período em que trabalhou na Sabesp intercedeu nos contratos da sua empresa com a estatal e disse que já havia assinado parte dos negócios da consultoria com a companhia antes de trocar o setor privado pelo público.
“A Vitalux já tinha contratos (com a Sabesp) quando eu entrei. Em um desses contratos, inclusive, a licitação ocorreu em 2006, quando eu ainda estava na Vitalux. Fui eu que preparei a proposta. É que teve a burocracia da Sabesp e ele só foi assinado em 2007”, afirmou Seuaciuc.
O contrato em questão, de R$ 4,8 milhões, é para elaborar projetos de uso racional de energia elétrica na estação de tratamento de esgoto de Barueri. Ele foi assinado em maio de 2007 pelo diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, de quem Seuaciuc já era, naquele momento, assessor executivo.
O engenheiro disse ter sido convidado a trabalhar na Sabesp pelo ex-presidente da companhia, Gesner Oliveira – os dois saíram no início deste ano. “Para mim foi como período sabático. Eu queria fazer outra coisa na vida. Nunca tinha trabalhado em empresa grande.”
Segundo Seuaciuc, a Sabesp não é o carro-chefe dos contratos da Vitalux e a participação dos negócios com a estatal no faturamento da empresa subiu pouco no período em que ele atuou no governo. “Em 2006, quando eu estava aqui (Vitalux), a Sabesp representava 24% da nossa receita. Entre 2007 e 2010, quando estive lá (na Sabesp), o topo foi de 28%.”
O engenheiro disse ainda que não estava na Sabesp para ajudar a Vitalux. “Se alguém algum dia falar e provar que eu fui lá, intercedi em nome da empresa, que fiz lobby – ou que o contrato é superfaturado ou que ganhou licitação fajuta – então eu quero que prove porque, aí sim, seria grave.”
Sobre as doações de campanha, o sócio de Seuaciuc, Eduardo Moreno, disse que “apoia quem defende interesses do saneamento”. Segundo ele, a Vitalux cresceu nos últimos anos porque a demanda no mercado é grande. “Hoje, empresas do setor público e privado querem reduzir perdas (de água e energia).”
Jornal da Tarde
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