domingo, 15 de setembro de 2013

Uma homenagem a Luis Gushiken

Samurai

A palavra e a espada.
Há uma espada na sala do Samurai.
Pousada sobre o silêncio da madeira.
E uma aguda noção de honra.

A palavra disparada em descargas curtas
traía o vulcão sob a neve.
Ensaiava um exercício barroco
incapaz de traduzir
- por escasso -
a multidão de sonhos
que manteve este homem
de pé diante da dor e sereno diante da morte.

Deposito sobre a terra do teu peito devastado
este ramo de ipê coroado de branco
para cantar com as cerejeiras ancestrais
a eternidade fugaz de tua vida
agora entregue ao silêncio acolhedor
do meu verso e do meu coração.

Aqui repousa, dentro do meu peito,
libertado da dor e do cansaço,
o que não se deteve diante da infâmia.
'surda força dos vermes'*  
tão estridente neste país,
não alterou a serenidade
ou a vocação da semente
que deixou de pulsar.

Aqui repousa a espada de sonhos
do companheiro Luiz Gushiken:
metal colhido pela réstia de luz
que se evade pela janela
de nossa indignação...

Pedro Tierra

___
*Verso de Cecília Meireles no 'Romanceiro da 

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