domingo, 2 de outubro de 2011

FLOTAÇÃO DO PINHEIROS: MAIS UMA “MÁGICA” FRUSTRADA - Alvaro Rodrigues dos Santos

O geólogo que trabalhou no IPT alerta para as mandrakarias tucanas em S. Paulo. Essa, que durou muitos anos, propunha limpar mágicamente o Rio Pinheiros ao invés de implantar um eficiente sistema de esgoto. Mostr também a incompetência da Sabesp no saneamento metropolitano.

Agora de forma definitiva o governo paulista anuncia que desiste de implantar o projeto de flotação do Rio Pinheiros, com o qual se pretendia despoluir as águas do rio e reiniciar a produção de energia elétrica na Usina Henry Borden, em Cubatão. Objetivo meritório de recuperar a operacionalidade de um dos projetos energéticos, Billings, mais fantásticos já concebidos no país: o aproveitamento do desnível de 700 metros da Serra do Mar para produzir energia ao pé da serra com a reversão hídrica de águas do Tietê e Pinheiros. Projeto que foi interrompido em 1989 por obséquio do intolerável grau de poluição das águas urbanas de São Paulo.

O caso do Projeto Flotação é exemplar para trazer à tona a facilidade com que administradores públicos se deixam iludir por “mágicas” tecnológicas oferecidas para a solução de crônicos problemas de infraestrutura urbana. O ilusório “passe de mágica” atende as expectativas políticas de nossos governantes em obter resultados de seus investimentos de seu governo a um tempo que viabilize seu aproveitamento e sua exploração político-eleitoral. Ao mesmo tempo, esse encanto com a solução fácil e rápida para problemas crônicos faz parte da enorme dificuldade cultural de nossas administrações públicas trabalharem com perspectivas de médio e longo prazo, com programas que exigiriam continuidade ao longo de sucessivos governos.

Esses atributos os tornam assim vulneráveis a propostas mirabolantes, quando não a propostas espertamente engendradas nos escritórios de grupos privados interessados nos futuros contratos de implantação ou exploração das “mágicas” propostas.

Outro exemplo na ordem do dia são nossos deletérios piscinões, com os quais se prometeu ao governo paulista e prefeituras metropolitanas o mágico fim das enchentes. Estamos aí hoje com vários desses atentados sanitários, urbanísticos e ambientais desvalorizando e poluindo áreas públicas densamente habitadas e as enchentes sucedendo-se, a cada ano mais freqüentes e intensas. Fruto da incompreensível resistência em atacar as verdadeiras causas do problema maior através de um grande e prolongado elenco de medidas não estruturais voltadas a desimpermeabilizar a cidade e a reduzir o assoreamento das drenagens por sedimentos e lixo.

Gastos declarados de 160 milhões de reais na frustrada experiência da flotação na verdade são pequena parte dos prejuízos. E o tempo dedicado ao projeto ao longo de quase 10 anos por diversos órgãos públicos? E o atraso imposto nos estudos e na implantação de medidas técnicas que realmente fariam sentido? Tudo isso vale muito dinheiro e se traduz na prática em maior redução ainda da já baixa qualidade de vida da população. E isso, que preço teria?

Creiam os administradores públicos, não há mágicas no trato da coisa pública. Sejam mais suspeitosos e resistentes frente a ofertas de soluções rápidas e fáceis. Delas desconfiem. E escudem-se para tanto no corpo técnico de suas instituições públicas como o IPT, a Universidade, os vários Institutos de Pesquisa que ainda insistem em sobreviver, nos técnicos de valor que ainda sobraram do esvaziamento dos órgãos públicos, em empresas privadas de reconhecido mérito técnico e ético.

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)

• Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia

• Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos” e “Cubatão”

• Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente

• Membro do Conselho de Desenvolvimento das Cidades da Fecomércio


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