Pio Redondo
São Paulo
As
frases proferidas com firmeza são do deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP),
em entrevista ao Brasil Notícia, logo depois de participar de um debate sobre a
conjuntura política e econômica do país, promovido por estudantes da Faculdade
de Economia da Universidade de São Paulo.
Zarattini, economista, formado na própria Fea, abordou os temas
centrais que agitam o país, e especialmente o Congresso Nacional, nos nove
primeiros meses do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
“Eu acho que a oposição não se conformou com a derrota”,
afirma o deputado, resumindo sua opinião sobre as inúmeras tentativas de
setores do PSDB, leia-se o derrotado candidato, senador Aécio Neves, e seus
pares, de articularem no Congresso Nacional os pedidos de impedimento de
Dilma.
O deputado petista também falou das saídas para a crise
econômica, que ele julga ser possível a partir de medidas como a redução dos
juros, e novos programas que ofereçam alta geração e emprego e renda, como a
Fase 3 do Minha Casa Minha Vida.
Para ‘capitalizar’ o orçamento federal na alavancagem do
desenvolvimento, Zarattini defende a taxação as grandes fortunas, em sintonia
com as forças de esquerda do país,
Ex-secretário de Transporte de São Paulo, na gestão da
ex-prefeita Marta Suplicy, e ex-analista do Metrô de São Paulo, gerido pelo
governo do estado, administrado pelo PSDB há 17 anos, o deputado aborda os
problemas nas grandes obras de infraestrutura de transporte de massa na
capital.
Essas obras, que se desenvolvem em ritmo lento, sofreram
recente cancelamento de contrato, no caso da privatização da construção da
Linha 4- Amarela do Metrô. O grupo espanhol Isolux Corsán-Corviam, que ganhou
contrato de concessão, rescindiu, alegando que o governo estadual não
apresentou projeto executivo para a construção do empreendimento, fato negado
pelo secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni.
Além da obra da Linha 4, que agora terá nova licitação em
2016 e conclusão de determinadas estações apenas em 2018, houve também redução
da extensão do chamado 'Monotrilho', que cruzaria a cidade, desde os bairros
populares da zona Sul e até a zona Leste da capital.
Leia:
[Economia]
BNSP: Há uma apreensão dos setores populares, sindicatos e
movimentos populares, e do setor empresarial, sobre qual será a saída para a
crise econômica. Qual a sua opinião?
Zarattini: Eu acho que
nós temos como única saída retomar o crescimento econômico e o desenvolvimento.
Para que isso aconteça, é necessário que o governo tome algumas medidas. A
primeira delas: estancar o aumento das taxas de juros e, se for possível,
reduzir a taxa de juros no Brasil, o que é fundamental para as empresas
investirem, e para o povo poder consumir mais.
A outra questão diz respeito a lançar programas que gerem
emprego, como por exemplo o ‘Minha Casa Minha Vida’, retomar a chamada Fase 3
do programa, para construir mais 2,5 milhões de novas moradias no Brasil.
É um programa que além de garantir moradia ao trabalhador,
garante e gera emprego. Acredito que esses programas são fundamentais pra gente
continuar crescendo.
BNSP: Há uma discussão interna no PT sobre taxação das grandes fortunas.
Qual a sua opinião?
Zarattini: No Brasil, os
trabalhadores de menor renda pagam imposto através dos produtos que compram.
Todo produto tem o imposto embutido. Os da classe média, pagam, principalmente,
o Imposto de Renda. Mas os ricos não pagam imposto nenhum.
O que nós queremos é garantir que se cobre mais dos ricos.
Tem duas possibilidades: o imposto sobre as grandes fortunas, e o imposto sobre
a herança. São duas formas de taxar os mais ricos, e nós queremos aprovar essas
duas medidas. Para isso é necessário divulgar essas ideias para a gente
ter apoio que garanta a aprovação das medidas [no Congresso].
[Política]
BNSP: Essa questão do impeachment é
constantemente aventada em Brasília, toda semana, desde o final da eleição
presidencial de 2014. Como o deputado vê esse quadro?
Zarattini: Eu acho que a
oposição não se conformou com a derrota. Então ela sofreu uma derrota, é
verdade que a diferença foi pequena, mas ela não quis reconhecer a derrota, e
fica o tempo todo agitando essa questão. E muito sem base jurídica para que
isso aconteça. Eu acredito que esse barulho todo vai acabar diminuindo, porque
não é possível impedir que o resultado conquistado nas urnas seja efetivado
através de um governo democrático.
BNSP: A crise política, em relação às denúncias de corrupção: existem
críticas de uso de dois pesos e duas medidas na condução das investigações, e
por parte da mídia.
Zarattini: É evidente que
existiu corrupção na Petrobras. Principalmente envolvendo seus altos
funcionários. Parte disso eles alegam que foi para os partidos políticos. Acho
que pelo jeito foi para todos os partidos políticos, inclusive o PSDB.
Agora, querer criminalizar doações de campanha, nós não
concordamos com isso porque as doações foram feitas todo pelo sistema legal.
Tanto para o PT, o PSDB, o PMDB, PP, todos foram pelo sistema legal,
registradas e apresentadas ao TSE.
O que é a raiz dessa questão toda é o financiamento privado
das eleições. Enquanto nós tivermos o sistema de financiamento através das
empresas, nós vamos continuar tendo casos e casos de denúncias de corrupção”.
A afirmação do deputado sobre as doações confere:
levantamento do portal de transparência Às Claras.Org, elaborado a partir de
dados oficiais das prestação de contas dos partidos ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), indica que o PSDB foi o maior beneficiário de doações das 15
maiores empreiteiras do Brasil, com R$ 162 milhões. E entre elas estão as
construtoras investigadas na Operação Lava Jato, algumas já condenadas a
devolver dinheiro público desviado.
[Transportes]
BNSP: Transportes, a sua área: existem uma série de obras que estavam
sendo tocadas, Linha 4 no Metro, Monotrilho. O que isso significa em termos de
gestão?
Zarattini: O governo do
estado anuncia projetos e planos aos borbotões. Por exemplo, prometeram que o
Monotrilho iria chegar em Paraisópolis, na zona sul, e na Cidade Tiradentes, na
zona leste. Está provado, agora, que é um sistema que não tem eficiência,
caríssimo, e que o próprio governo do estado foi obrigado a cortar essa
ampliação. Então é muito anuncio, muita propaganda, e pouco resultado.
[Água]
BNSP: E essa escassez de água em São Paulo,
cada vez mais crítica?
Zarattini: O governo do
estado não tomou as providências necessárias para evitar o racionamento. Agora,
está tentando fazer obras a qualquer custo. Outro dia inaugurou uma mini
adutora que ligou uma área seca com outra área seca. Dinheiro gasto à toa, sem
planejamento, sem maiores cuidados.
Acho que a gente tem de exigir que se fale para a população
aquilo que realmente está acontecendo, para que a gente possa garantir, enfim,
que não falte água para toda a população. Na periferia falta água e nas áreas
mais ricas continua o abastecimento.
Matéria publicada no site: http://www.brasilnoticia.com.br/politica/zarattini-afirma-que-ricos-nao-pagam-imposto-no-pais-e-propoe-taxacao-das-grandes-fortunas/63214
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