quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Zarattini afirma que ricos não pagam imposto no país, e propõe taxação das grandes fortunas



Pio Redondo
São Paulo

As frases proferidas com firmeza são do deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), em entrevista ao Brasil Notícia, logo depois de participar de um debate sobre a conjuntura política e econômica do país, promovido por estudantes da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo.

Zarattini, economista, formado na própria Fea, abordou os temas centrais que agitam o país, e especialmente o Congresso Nacional, nos nove primeiros meses do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

“Eu acho que a oposição não se conformou com a derrota”, afirma o deputado, resumindo sua opinião sobre as inúmeras tentativas de setores do PSDB, leia-se o derrotado candidato, senador Aécio Neves, e seus pares, de articularem no Congresso Nacional os pedidos de impedimento de Dilma. 

O deputado petista também falou das saídas para a crise econômica, que ele julga ser possível a partir de medidas como a redução dos juros, e novos programas que ofereçam alta geração e emprego e renda, como a Fase 3 do Minha Casa Minha Vida.

Para ‘capitalizar’ o orçamento federal na alavancagem do desenvolvimento, Zarattini defende a taxação as grandes fortunas, em sintonia com as forças de esquerda do país, 

Ex-secretário de Transporte de São Paulo, na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy, e ex-analista do Metrô de São Paulo, gerido pelo governo do estado, administrado pelo PSDB há 17 anos, o deputado aborda os problemas nas grandes obras de infraestrutura de transporte de massa na capital.

Essas obras, que se desenvolvem em ritmo lento, sofreram recente cancelamento de contrato, no caso da privatização da construção da Linha 4- Amarela do Metrô. O grupo espanhol Isolux Corsán-Corviam, que ganhou contrato de concessão, rescindiu, alegando que o governo estadual não apresentou projeto executivo para a construção do empreendimento, fato negado pelo secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni.

Além da obra da Linha 4, que agora terá nova licitação em 2016 e conclusão de determinadas estações apenas em 2018, houve também redução da extensão do chamado 'Monotrilho', que cruzaria a cidade, desde os bairros populares da zona Sul e até a zona Leste da capital.     

Leia:

[Economia]

BNSP: Há uma apreensão dos setores populares, sindicatos e movimentos populares, e do setor empresarial, sobre qual será a saída para a crise econômica. Qual a sua opinião?

Zarattini: Eu acho que nós temos como única saída retomar o crescimento econômico e o desenvolvimento. Para que isso aconteça, é necessário que o governo tome algumas medidas. A primeira delas: estancar o aumento das taxas de juros e, se for possível, reduzir a taxa de juros no Brasil, o que é fundamental para as empresas investirem, e para o povo poder consumir mais.

A outra questão diz respeito a lançar programas que gerem emprego, como por exemplo o ‘Minha Casa Minha Vida’, retomar a chamada Fase 3 do programa, para construir mais 2,5 milhões de novas moradias no Brasil.
É um programa que além de garantir moradia ao trabalhador, garante e gera emprego. Acredito que esses programas são fundamentais pra gente continuar crescendo.

BNSP: Há uma discussão interna no PT sobre taxação das grandes fortunas. Qual a sua opinião?


Zarattini: No Brasil, os trabalhadores de menor renda pagam imposto através dos produtos que compram. Todo produto tem o imposto embutido. Os da classe média, pagam, principalmente, o Imposto de Renda. Mas os ricos não pagam imposto nenhum.
O que nós queremos é garantir que se cobre mais dos ricos. Tem duas possibilidades: o imposto sobre as grandes fortunas, e o imposto sobre a herança. São duas formas de taxar os mais ricos, e nós queremos aprovar essas duas medidas. Para isso é necessário divulgar essas ideias para a gente ter apoio que garanta a aprovação das medidas [no Congresso].

[Política]

BNSP: Essa questão do impeachment é constantemente aventada em Brasília, toda semana, desde o final da eleição presidencial de 2014. Como o deputado vê esse quadro?

Zarattini: Eu acho que a oposição não se conformou com a derrota. Então ela sofreu uma derrota, é verdade que a diferença foi pequena, mas ela não quis reconhecer a derrota, e fica o tempo todo agitando essa questão. E muito sem base jurídica para que isso aconteça. Eu acredito que esse barulho todo vai acabar diminuindo, porque não é possível impedir que o resultado conquistado nas urnas seja efetivado através de um governo democrático.

BNSP: A crise política, em relação às denúncias de corrupção: existem críticas de uso de dois pesos e duas medidas na condução das investigações, e por parte da mídia.    

Zarattini: É evidente que existiu corrupção na Petrobras. Principalmente envolvendo seus altos funcionários. Parte disso eles alegam que foi para os partidos políticos. Acho que pelo jeito foi para todos os partidos políticos, inclusive o PSDB. 

Agora, querer criminalizar doações de campanha, nós não concordamos com isso porque as doações foram feitas todo pelo sistema legal. Tanto para o PT, o PSDB, o PMDB, PP, todos foram pelo sistema legal, registradas e apresentadas ao TSE.

O que é a raiz dessa questão toda é o financiamento privado das eleições. Enquanto nós tivermos o sistema de financiamento através das empresas, nós vamos continuar tendo casos e casos de denúncias de corrupção”.


A afirmação do deputado sobre as doações confere: levantamento do portal de transparência Às Claras.Org, elaborado a partir de dados oficiais das prestação de contas dos partidos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), indica que o PSDB foi o maior beneficiário de doações das 15 maiores empreiteiras do Brasil, com R$ 162 milhões. E entre elas estão as construtoras investigadas na Operação Lava Jato, algumas já condenadas a devolver dinheiro público desviado.



[Transportes]

BNSP: Transportes, a sua área: existem uma série de obras que estavam sendo tocadas, Linha 4 no Metro, Monotrilho. O que isso significa em termos de gestão?

Zarattini: O governo do estado anuncia projetos e planos aos borbotões. Por exemplo, prometeram que o Monotrilho iria chegar em Paraisópolis, na zona sul, e na Cidade Tiradentes, na zona leste. Está provado, agora, que é um sistema que não tem eficiência, caríssimo, e que o próprio governo do estado foi obrigado a cortar essa ampliação. Então é muito anuncio, muita propaganda, e pouco resultado.



[Água]

BNSP: E essa escassez de água em São Paulo, cada vez mais crítica?

Zarattini: O governo do estado não tomou as providências necessárias para evitar o racionamento. Agora, está tentando fazer obras a qualquer custo. Outro dia inaugurou uma mini adutora que ligou uma área seca com outra área seca. Dinheiro gasto à toa, sem planejamento, sem maiores cuidados.

Acho que a gente tem de exigir que se fale para a população aquilo que realmente está acontecendo, para que a gente possa garantir, enfim, que não falte água para toda a população. Na periferia falta água e nas áreas mais ricas continua o abastecimento.



Matéria publicada no site: http://www.brasilnoticia.com.br/politica/zarattini-afirma-que-ricos-nao-pagam-imposto-no-pais-e-propoe-taxacao-das-grandes-fortunas/63214

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