Vítimas de piadas racistas e ignorados pelo restante dos alunos, os bolsistas se esforçam para superar a exclusão dentro das próprias salas de aula
Mariana Lenharo – JORNAL DA TARDE
Os colegas de turma de Juliano Tenório da Silva, estudante de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não o cumprimentam nos corredores da instituição. Nayla Paganini, também aluna da PUC-SP, é alvo de comentários por não se vestir com roupas caras como as outras garotas da classe. Já o publicitário José Geraldo da Silva Junior, que estudou na Universidade Metodista de São Paulo, ainda não entende por que o nome dele e dos outros bolsistas da sala vinham por último na lista de chamada, fora da ordem alfabética.
Os três conseguiram ingressar em instituições de ensino conceituadas da cidade graças ao Programa Universidade para Todos do Ministério da Educação, o ProUni, que concede bolsas em universidades particulares para alunos de baixa renda (leia as histórias de cada um deles aqui).
Neste ano, 84.817 estudantes foram beneficiados no Estado de São Paulo com auxílios integrais ou parciais. À medida que o programa amplia o acesso das camadas sociais mais baixas ao ensino superior pago, aumentam também os casos de bolsistas que se sentem vítimas de preconceito na sala de aula.
Na semana passada, o Jornal da Tarde noticiou o caso da estudante negra Meire Rose Morais, de 46 anos, que recebeu e-mails ofensivos e racistas de uma colega de classe da PUC-SP. Tudo começou quando, às vésperas do segundo turno das eleições, Meire encaminhou uma análise política para a lista de e-mails de sua classe. Em poucos minutos, 33 e-mails de uma única pessoa lotavam sua caixa de entrada: eram piadas preconceituosas e uma mensagem de que Meire nunca mais irá esquecer.
Em um mesmo texto, a agressora chamava a aluna de prostituta, caracteriza seu pé como “grotesco”, zombava de seu cabelo e ainda criticava suas roupas. “Chorei durante cinco dias. Fiquei me sentindo um nada, ela quis me ofender em todas as minhas características”, lembra.Meire conta que o e-mail foi o ápice do preconceito, com o qual ela já convivia, em doses menores, desde o início do curso.
“Quando entrei na PUC, em 2005, existia um clima de medo, como se os alunos do ProUni fossem fazer a qualidade da instituição cair”, diz. Por isso, segundo a estudante, os bolsistas sempre sentiram vergonha de se manifestar, com medo de ser apontados como aqueles que estavam prejudicando a qualidade do ensino.
Na sexta-feira, as agressões contra Meire provocaram uma reação na universidade. Em moção de repúdio assinada pelas associações dos professores e dos funcionários da PUC e pelo Conselho dos Centros Acadêmicos da universidade, a atitude foi caracterizada como reveladora de um “ódio antipovo”, marcado pela “presença de uma intolerância raivosa no interior da PUC-SP, que se dirige contra tudo o que se diferencie de um pretenso padrão estético, moral e político”.
Prestes a concluir o curso de Direito, Meire vai apresentar nesta semana um requerimento administrativo na PUC-SP para que a universidade ouça os alunos envolvidos na questão e avalie a punição para os responsáveis. Além disso, pede que a universidade desenvolva atividades oficiais de combate à intolerância. Procurada pela reportagem, a PUC-SP não se manifestou sobre o caso.
Para a educadora Quézia Bombonatto, esse tipo de comportamento pode ser considerado como uma forma de bullying. “Embora seja mais comum entre adolescentes e crianças, muitos sofrem bullying na universidade e no trabalho. A universitária que ofendeu a outra estudante com certeza não consegue lidar com a diversidade e sente-se ameaçada em seu reduto”, analisa.
Para o advogado Cleyton Wenceslau Borges, representante da Uniafro Brasil, instituição educacional voltada para negros e pessoas de baixa renda, é importante que as universidades conveniadas ao ProUni disponham de um espaço institucional para tratar do tema do preconceito. “Corre-se o risco de aumentar a distribuição de bolsas sem que essas instituições se voltem para dentro de si para verificar se está havendo esse tipo de enfrentamento racial”, acredita.
FRASES
FRASES
“O aluno universitário que pratica o preconceito também é vítima de uma sociedade que não o preparou para conviver com as diferenças” FREI DAVID R. DOS SANTOS, FUNDADOR DA EDUCAFRO
“Chorei durante cinco dias. Fiquei me sentindo um nada, ela quis me ofender em todas as minhas características”,MEIRE ROSE MORAES, ALUNA DE DIREITO DA PUC, VÍTIMA DE E-MAILS PRECONCEITUOSOS DE UMA COLEGA
“É como se eu carregasse uma placa dizendo que sou diferente dos outros, que sou bolsista”, jULIANO TENÓRIO DA SILVA, ALUNO DE DIREITO DA PUC
“Não conseguimos nos integrar nos grupos de trabalho, ficamos em um grupo isolado. Estava excluído. Os outros alunos comentavam que eles é que pagavam a mensalidade”, JOSÉ GERALDO DA SILVA JUNIOR, FORMADO EM PUBLICIDADE PELA METODISTA
Parabéns deputado! Bom trabalho.
ResponderExcluirÓtima matéria do Jornal da Tarde.
ResponderExcluirSou bolsista do PROUNI, e felizmente na Universidade onde curso Jornalismo, não sofri nenhum tipo de preconceito. Os professores comentam apenas que "é baixo o indice de bolsistas do PROUNI que conseguem concluir o curso". Eles creditam esse fato às dificuldades que alguns alunos encontram, como transporte, por exemplo. Na UNISANTA, universidade onde estou matriculada, foram concedidas, em 2010, centenas de bolsas do PROUNI para todos os cursos.
Apesar de não sofrer preconceito na Universidade, já ouvi pessoas dizerem (e retruquei, inclusive) que "PROUNI é esmola aos burros que saem das Escolas Públicas, e que somos inferiores aos outros alunos".
1º Se fosse esmola aos burros, como um BURRO passaria numa prova de dois dias, monstruosa como o ENEM, saindo na frente de milhares de pessoas?!
2º Se somos inferiores aos alunos da nossa sala, porque os mesmos não passaram nos vestibulares das Universidades Públicas, e por isso pagam mensalidades enormes?!
3º Se somos realmente BURROS e inferiores aos alunos de nossa sala, basta comparar a prova do vestibular da UNIVERSIDADE, com a prova do ENEM, e verificar o grau de dificuldade.
Me solidarizo com os companheiros que sofrem preconceito, mas digo que não devemos baixar a cabeça, pois se chegamos onde chegamos foi por mérito nosso. Roupa de marca, não estampa o conteúdo adquirido em sala de aula. Caráter não está na cor da pele. Dificuldades todo mundo enfrenta, até mesmo aqueles que nos julgam. Vamos de cabeça erguida enfrentar o preconceito, e fazer juz a bolsa que nos foi concedida. Rumo ao sucesso!
Aproveito a oportunidade para parabenizar o Deputado Zarattini, pelo blog repleto de conteúdo informativo e de interesse social.
Sofri muito na minha graduação,na minha turma havia 2 turmas os prounis e o restante da turma, os alunos do Prouni tinham que ter as melhores notas e os outros as melhores roupas... melhores sapatos e serem os mais bonitos.
ResponderExcluirO meu problema é que como na escola nao fiz grupos, tinha amizade com todo mundo,e os trabalhos eram feitos com quem estava mais próximo, até que saiu uma reportagem na revista Veja falando que os melhores alunos das universidades particulares eram os alunos do PROUNI e nisto veio a lista dos parabéns e o meio nome estava no meio, aí veio a prova de choque eu nao era do grupo Prouni e não era do grupo dos ricos.
Aí veio o ela tem vergonha de ser pobre, segundo os prounis e o ela tem cara de pobre, dos que se achavam superiores.No fim nao tinha ninguem pra almoçar, ninguem pra fazer trabalhos em um curso integral...e o pior estava por vir foram vinculados e-mails em meu nome falando mal de todo mundo, e outros falando horrores de mim.
Entrei em uma depressão horrorosa entrei na facul com 48 quilos,já era magra, e fiquei com 37 e tenho 1.61 de altura, me sentia o pior dos seres humanos e como eu sonhei emque o ano letivo voasse.
Enfim nao foi proveitoso pra mim a faculdade, sai me sentindo os piores dos seres humanos, e nem fiz a tao sonhada formatura, na verdade a universidade foi um trauma pra mim e nao uma conquista.