P- Passada a votação que salvou Temer do julgamento pelo Supremo pela denúncia de corrupção passiva, qual é a estratégia do PT para o próximo período?
R- A estratégia básica da bancada do PT agora é resistir à aprovação das reformas, que têm como objetivo uma revisão de avanços conquistados no país. Exemplo disso é a reforma trabalhista que, na prática, acabou com a CLT. Com ela o contrato do trabalhador continua existindo mas abriram-se outras formas de contratação, muito mais favoráveis aos empresários. Então, os empresários têm agora outras quatro ou cinco alternativas de contratar o trabalhador, diferentes das que estão na antiga CLT. E com isso barateia o custo da mão-de-obra no país e o trabalhador fica à deriva.
P- Quais outras reformas que preocupam a oposição neste momento?
R- Ao mesmo tempo que fizeram a reforma trabalhista eles (governo Temer) estão propondo uma séria de reformas econômicas estruturais que permitem uma recomposição do capital no Brasil. Então, você pega a autorização para que outras empresas possam operar no pré- sal. Isso vai permitir a entrada de capital estrangeiro na exploração do pré -sal. E também tem o desmonte da Petrobras. Eles estão vendendo refinarias, a Transpetro, a BR Distribuidora, que é uma rede de distribuição. Na prática, o governo Temer quer transformar a maior empresa pública do País somente em empresa exploradora de petróleo. Só vai fazer extração propriamente dita. Vai virar uma empresa pequena.
P- Quais outras ações do governo do PMDB que estão sendo mapeadas pelos petistas no Congresso, agora que Temer conseguiu se livrar de ser afastado do poder?
R – Na mineração, por exemplo, o governo ilegítimo está propondo abrir o mercado. Tem um projeto de redefinição do marco legal liberando mais de 21 mil áreas de exploração de mineral que já tem prospecção que eles pretendem abrir ao capital estrangeiro e a maior parte delas é na Amazônia. Com isso nosso Amazônia corre um risco gigantesco. Além disso, esse governo que está aí quer vender terras para estrangeiros, com objetivo de fundos de investimentos europeus, americanos chineses para compra de grandes áreas fazendo uma agricultura de exportação.
P- O senhor falou da tentativa do governo Temer de aprovar uma reestruturação da economia brasileira…
R – Então, os governistas querem uma reestruturação da economia brasileira. No entanto, eles falam da reforma tributária, mas até agora não apresentaram nada. Portanto, nosso objetivo principal agora é resistir a essa ofensiva e tentar nos apoiar nos interesses da população brasileira que está sendo contrariada. Por exemplo, temos sete milhões de jovens cursando universidade. Com esse modelo proposto por eles, de um país exportador de minérios e produtos agrícolas, aí não precisa de universidade e nem de tecnologia. Não precisa de muita coisa para isso. Então pergunto, qual a perspectiva para esses jovens e qual é a perspectiva para a indústria brasileira? Hoje ela está reduzida, mas ainda é uma indústria forte. É ainda o maior setor da América Latina. Esses setores começam a entender qual o objetivo do golpe. Então, nossa oposição aqui tem as batalhas do dia-a-dia mas também estamos fazendo toda articulação com todos esses setores.
P- A batalha agora no segundo semestre será a de defesa dos direitos então, e não mais o fora Temer? O PT já trabalha com a perspectiva de Temer ficar até 2018?
R- Se vier outra denúncia contra o Temer, do Janot, nosso empenho vai ser tirar o Temer. Essa coisa que dizem que o PT quer ver o Temer sangrar até o fim, na verdade ele está fazendo o país sangrar. Do ponto de vista fiscal é um desastre a gestão do Henrique Meirelles. Agora ele vai ter de fazer um ajuste na meta do déficit. Isso porque não conseguiram produzir aquele resultado. E, se eles não fizerem isso o país vai parar. O orçamento dos ministérios nosso vai acabar em setembro. Então, tem que fazer ajustes. Do ponto de vista fiscal eles produziram um verdadeiro desastre. A arrecadação vai caindo porque eles vão cortando e os cortes desaceleram a economia. Não tem nenhum programa de investimento.
P- Por que não houve mobilização popular durante a votação de quarta-feira?
R – Não adianta falar para a CUT, para o MST ou outros movimentos sociais se mobilizarem. O povo não acredita que o Congresso vai tirar o Temer. Quando se vê tanta notícia de que o governo compra voto, libera emendas e etc, o povo não acredita na ação política do Congresso. É difícil mobilizar uma coisa que as pessoas não acreditam. O Congresso não é esperança. É psicologia de massa. Já a reforma da Previdência é uma coisa que as pessoas entenderam, diferentemente da Trabalhista, que o povo não entendeu. O povo sabe que o pobre vai ter mais dificuldade para se aposentar. É mais claro para as pessoas. Então, a capacidade de mobilização é maior.
P- É mais facial derrotar a reforma da Previdência? E por quê?
R – Sim. É mais fácil por duas razões: primeiro, o governo precisa de 308 votos. Segundo, na reforma trabalhista, todo mundo sabe que a maioria dos deputados são empresários então, o cara vota em interesse próprio. No caso da Previdência é um dinheiro do governo, aí o deputado fala que não vai perder os votos por causa do governo. Para o PT, os pressupostos apresentados pelo governo não justificam essa reforma. Até 2012 não havia déficit da Previdência pois havia emprego, logo, havia contribuição. É evidente que várias coisas têm que ser ajustadas, mas não os direitos dos trabalhadores.
P- Avaliando a votação da quarta-feira (2) em que o governo teve menos votos do que imaginava e uma possível segunda denúncia do ministro Janot, qual vai ser a posição da bancada do PT?
R- O plano é tentar desgastar e aprovar o fim do governo. Logicamente trabalhar para ter mais mobilização social. Mas primeiro precisa ver a denúncia. Precisa ver se realmente há elementos importantes que envolvam Eduardo Cunha e Funaro. Ai sim pode ter uma ação mais favorável à aprovação da denúncia.
José Mello com agência
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