O vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT) divulgou na tarde desta segunda (27) uma carta aberta à população na qual comenta as denúncias apresentadas pelo Ministério Público e se diz 'perplexo' com as acusações.
Confira a íntegra
Carta do vice-prefeito Demétrio Vilagra aos militantes do PT, aberta à população
Companheiros e companheiras,
Escrevo esta carta para falar das denúncias apresentadas pelo Ministério Público me envolvendo, denúncias estas que desde já deixo claro não terem procedência: sou uma pessoa íntegra e nunca me envolvi em nenhum ilícito em toda minha carreira profissional e política. Ainda assim, não tem sido um período fácil. Se as acusações deixaram a todos vocês perplexos, saibam que comigo foi idêntico.
Como é de conhecimento público, cheguei ainda jovem na cidade, com 21 anos. Fui aprovado em um concurso da Petrobrás e vim a Campinas para trabalhar e construir honestamente minha vida, constituindo residência aqui há 43 anos.
Nessa cidade criei meus filhos e constituí minha família. Fui dirigente do Sindicato dos Petroleiros ainda durante a ditadura, assim tive a honra de ser um dos fundadores do PT em nossa cidade. Em 1983 fui perseguido político, tive meus direitos cassados e fui afastado da Petrobrás. Lutei para recuperar meus direitos e consegui a anistia - além de indenização recebida em virtude de terem na época me tirado direitos trabalhistas garantidos pela lei. Recuperei o direito de ser funcionário da Petrobrás, empresa da qual sou aposentado hoje.
Em 2001, ainda no governo do companheiro Toninho, fui convidado a integrar o time da Ceasa, com a tarefa de ajudar no combate à fome em nosso município e reconstruir a política municipal da merenda. Fomos bem sucedidos na tarefa, tanto que hoje, uma década depois, Campinas tem uma das melhores e mais baratas merendas do País.
Apesar de ter ocupado posições importantes no movimento sindical e no governo local, sempre me considerei um simples militante do PT, como tantos outros que dedicaram sua vida para construir um País e uma cidade mais justos e humanos. Mesmo tendo sido parte do PT desde a criação do partido, nunca almejei cargos eletivos e, por isso, me senti lisonjeado e orgulhoso quando fui escolhido por nosso partido para compor a chapa majoritária na condição de vice-prefeito.
É nesse contexto que fui injustiçado, envolvido em uma espiral de falsas denúncias que faço questão de refutar publicamente ante cada um de vocês e, mais ainda, gostaria de repartir minha indignação acrescentando a elas algumas considerações.
1 – O Ministério Público investiga essas denúncias, segundo informações da imprensa local, desde o ano passado: são 11 prefeituras, três governos estaduais, inclusive o de São Paulo, além de outros poderes, como o Tribunal de Justiça;
2 – Desde o inicio das investigações, manifestei meu apoio irrestrito aos trabalhos dos promotores, acompanhei, assim como vocês, dezenas de pessoas sendo “convidadas” a depor. Eu nunca fui convidado nem convocado pelo Ministério Público. Como vice-prefeito, teria prazer em depor a qualquer momento, se convocado. Isto nunca ocorreu.
3 – Após as primeiras denuncias, recomendei ao prefeito que afastasse do cargo todos os citados no processo, justamente para que o MP pudesse investigar tranquilamente todos os fatos. O PT, por decisão amplamente aprovada por seus filiados, na ocasião de seu encontro, também recomendou aos acusados que se defendessem sem “comprometer o capital político conquistado pelo governo a duras penas”.
4 – Assim, quando recebi durante minhas férias a informação de que eu estava sendo arrolado como suspeito, meu comportamento foi condizente com minha recomendação ao prefeito e a decisão do partido: pedi afastamento de minhas funções na Ceasa, para poder, inclusive, organizar de forma tranqüila minha defesa.
5 – Alías, foi enquanto estava de férias na Espanha que fui surpreendido pela informação de que um mandado de prisão havia sido expedido contra mim e que eu era um “foragido”. Ora, minhas férias foram amplamente divulgadas pela imprensa de Campinas na semana anterior ao ocorrido. Mesmo assim entrei em contato, por meio de meus advogados e de meu microblog, com a justiça, a imprensa e o público em geral, para informar que retornaria ao país.
6 – Eu nunca antes havia sequer saído do Brasil e comprei meu pacote de viagem em oito vezes, havia mais de 60 dias. Mesmo perplexo, voltei e me apresentei às autoridades assim que desembarquei. Depois do constrangimento de uma noite no Centro de Detenção Provisória, de uma longa a cansativa viagem e das terríveis tensões decorrentes das informações que chegavam até mim, depus no mesmo dia aos promotores. Importante ressaltar que mesmo nessas condições tive tratamento respeitoso e cordial da parte deles, não tendo sido pressionado ou constrangido em qualquer momento. Tive, no mesmo dia de meu depoimento, minha prisão revogada pelo próprio Juiz responsável pelo caso.
7 – Declarei, como também noticiou a imprensa depois do vazamento do processo, que apesar de ter uma vida simples e não ser rico, tenho rendimentos provenientes de minha anistia, aposentadoria e salários que justificam plenamente os R$ 60 mil apreendidos em minha residência. Estou, inclusive, solicitando formalmente à Justiça que devolva o dinheiro, pois tenho R$ 104 mil em multas eleitorais a pagar, conforme consta inclusive em meu Imposto de Renda.
8 - Em 1983, por conseqüência da perseguição política da qual fui vítima, tive minha conta bancária congelada, situação que perdurou por anos. Desde então, passei a guardar dinheiro em casa, o que é permitido pela lei, assim como outros tantos brasileiros também fazem, o que é fato público.
9 – Nunca negociei nem tomei parte em nenhum contrato da Sanasa investigado ou não pela justiça. Nunca recebi nenhum centavo desses fornecedores e tenho evolução patrimonial condizente com meus rendimentos como pode ser confirmado em minhas declarações de Imposto de Renda (sigilo fiscal) pela Justiça.
10 – Refuto qualquer acusação de que teria recebido R$ 20 mil de empresários investigados pelo MP. Declarei todos os meus gastos com multas de campanha ao imposto de renda, que disponibilizei para a Justiça. Algumas delas nem foram aplicadas contra candidatos do PT, mas por meu nome constar na chapa majoritária, também fui condenado a pagar;
11 – Como agente público, estive presente em diversas confraternizações de inúmeras empresas e entidades sociais em Campinas, mas nunca pedi ou aceitei ajuda financeira para qualquer coisa. Mantive com todos apenas a relação institucional inerente ao cargo que ocupo, assim como mantenho com dezenas de lideranças políticas e sociais.
12 – Continuei à disposição da Justiça, tenho residência fixa e conhecida. Mesmo assim, o Juiz responsável pelo caso pediu novamente minha prisão. Prisão essa revogada pelo desembargador do Tribunal de Justiça, que alegou em seu despacho não haver fatos que a justificassem e que a determinação foi abusiva.
13 – Pegando carona nas investigações do Ministério Público, houve quem tentasse colocar sob suspeita a merenda escolar. Refuto também todas as denúncias apresentadas e cobrarei judicialmente os esclarecimentos devidos dos denunciantes, já que todos os contratos da Ceasa foram aprovados pelo Tribunal de Contas do Estado, os preços são inferiores à média estadual (em média, R$ 1,07 por unidade) e a qualidade é superior.
14 – Vale lembrar ainda que os cardápios são aprovados por um conselho gestor formado por oito secretários e acompanhado por um conselho que reúne, entre outros, diretores de unidades escolares, o que também é fato público.
15 – Não tenho relação de amizade com nenhum dos denunciados pelo Ministério Público. Apesar de alguns de nós sermos da mesma cidade, cheguei em Campinas há mais de 40 anos e nunca frequentei a casa de nenhum nem me tornei íntimo deles. Mantive apenas relações políticas inerentes ao cargo que ocupo. Como também é público, nunca fui à casa do prefeito Hélio tratar de nenhum assunto com ele ou com a senhora Rosely Nayn Santos;
Isso posto, reitero minha confiança de que a justiça será feita e que serei inocentado de todas as acusações. Reitero também a convicção de que sempre que denúncias tão graves como essas surjam, o Ministério Público deve investigar até o fim, doa a quem doer, e que algumas forças políticas tentarão envolver nosso Partido, sempre de olho nas próximas eleições.
Aguardo ainda que as outras denúncias apresentadas pelos promotores em relação a outras cidades, que também se tornaram públicas pela imprensa, sejam apuradas com o mesmo rigor aplicado a Campinas. Entre elas as graves denúncias de irregularidades nas contratações das mesmas empresas aqui investigadas pela Sabesp, Companhia Engenharia de Tráfego (CET), Companhia Paulista de Obras e Serviços, Departamento de Perícias Médicas do Estado de São Paulo, Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Imprensa Oficial e Prodesp, além de outras prefeituras.
Saudações Petistas
Demétrio Vilagra
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