São Paulo – Moradores de rua do Centro de São Paulo reagiram indignados à notícia de que o governo Gilberto Kassab (PSD) pretende proibir ongs e entidades filantrópicas de distribuir sopa às pessoas que vivem em calçadas, praças e baixios dos viadutos.
A proibição foi anunciada pelo Secretário de Segurança Urbana do município, Edson Ortega, durante reunião com o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) e a Associação Viva Centro. Segundo ele, a prefeitura permitiria a distribuição apenas nos albergues. Quem desobedecesse seria enquadrado criminalmente. Ontem (28), diante da repercussão negativa, Kassab recuou, afirmando que a ameaça do secretário faria parte de um processo de “convencimento” das entidades.
A Rede Brasil Atual percorreu ontem à noite os arredores do Largo São Francisco, do Pátio do Colégio e da Praça da Sé. As pessoas que esperam o dia passar para que a noite chegue – e a comida vinda de mãos solidárias seja recebida – receberam a informação com surpresa.
"O Kassab tirar a nossa comida? Ele não é louco de fazer isso. É a única ajuda que a gente recebe. Ele já não dá um trabalho pra gente. Agora tirar a comida que nem é ele que oferece, aí não! Só se ele estiver usando drogas pra fazer isso aí", criticou Paulo Roberto Alves Campos, de 26 anos.
Segundo alguns moradores, essa não seria a primeira investida de Kassab contra as entidades que distribuem alimento nas ruas.
"O Kassab já tentou várias vezes intimidar esse pessoal que traz comida pra gente, tentando multar os carros que trazem a comida. Isso é de longa data. A cultura do nosso país é essa. Uma cultura medíocre", diz o paraibano Marconi José da Silva.
A algumas quadras de onde estavam os moradores que vivem entre o Pátio do Colégio e a Praça da Sé, um senhor de 70 anos, acompanhado de um ajudante e da imagem de uma santa, distribuia pães em frente ao Largo de São Francisco – local que, após a investida policial para dispersar os usuários de crack da região da Luz, no começo deste ano, passou a abrigar um grande número de moradores de rua e usuários de droga.
Carlos Borges, um português de sotaque carregado, se disse assustado quando soube pela reportagem sobre a possibilidade de a entrega da comida ser proibida.
"Eu já passei muita fome. Quem nunca passou fome não sabe o que é isso. A fome é negra. Esse senhor Kassab não sabe o que é passar fome", diz Borges, que há 53 anos distribui pães pelas ruas da cidade.
Já Alexandre dos Santos, de 37 anos, acredita que a eventual proibição possa aumentar os casos de roubo na cidade. Segundo ele, se a distribuição da sopa, as pessoas podem começar a roubar para comer. "Se tirarem essa comida do povo daqui, esse tipo de roubo vai voltar a acontecer", lamentou Santos, que é ex-serralheiro.
Ivone Cândido, de 40 anos, que é catadora de material reciclável e vive nos arredores do Pátio do Colégio, diz que recebe a comida sempre que precisa. Mas muitas vezes prefere dar seu lugar e seu prato a uma pessoa mais velha que ela. Ela conta que esse foi o jeito que encontrou para ajudar o próximo. "Diferente do Kassab, que não ajuda ninguém", criticou. "Mas se Deus quiser esse ano ele sai da prefeitura. Só tomara que não venha um pior que ele", enfatiza.
Fonte: Rede Brasil Atual - http://virou.gr/OKnVRi