sexta-feira, 15 de junho de 2012

Estratégia petista se favorece com novas denúncias contra Kassab


A estratégia do PT de reforçar o combate à corrupção na campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo, expressa na escolha da deputada federal Luiza Erundina (PSB) como vice na chapa do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), se fortaleceu ontem com a divulgação de denúncias de cobrança de propina na gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) para liberação de obras em empreendimentos imobiliários.
Haddad tem investido no tema, com críticas à atuação de Kassab no caso e a promessa de criar uma Controladoria-Geral do Município (GCM) para investigar desvios no serviço público e identificar formas de coibir as irregularidades, a exemplo da CGU no governo federal.
Do outro lado, surgem novas denúncias de irregularidades no Aprov, departamento da Secretaria Municipal de Habitação responsável por liberar os prédios construídos na cidade. O ex-diretor do Aprov, Hussein Aref Saab, é suspeito de enriquecimento ilícito - ele tem 118 imóveis, quase todos comprados enquanto esteve no cargo. Sua nomeação foi feita pelo ex-prefeito José Serra (PSDB), que concorre novamente ao cargo, com apoio de Kassab.
Ontem, o promotor de justiça do patrimônio público da capital, Sílvio Antônio Marques, afirmou que pelo menos sete pessoas acusaram, em depoimento, o pagamento de propina para a Prefeitura de São Paulo liberar obras na cidade. Entre os acusadores estão servidores públicos, um corretor de imóveis e antigos funcionários da Brookfield, além da ex-diretora da companhia Daniela Gonzales, que denunciou o esquema ao jornal "Folha de S.Paulo".
A ex-diretora da companhia acusa a Brookfield de pagar R$ 1,6 milhão de propina para Aref e o vereador Aurélio Miguel (PR), que teria influência na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), com o objetivo de liberar as obras dos Shoppings Pátio Higienópolis e Pátio Paulista. "As testemunhas estão surgindo espontaneamente. Algumas não têm nenhuma relação direta com Daniela", disse Sílvio Marques.
A Brookfield disse, em comunicado divulgado ontem, que as denúncias são "infundadas" e que Daniela Gonzalez é investigada pela polícia por irregularidades cometidas enquanto esteve na companhia. Segundo o MP, não houve acordo de delação premiada com Daniela.
Kassab afirmou que soube da denúncia apenas anteontem e que destacou o secretário dos Transportes, Marcelo Cardinale Branco, para apurar pessoalmente se houve pagamento de propina. O prefeito classificou as acusações como "graves".
Um dos principais opositores do prefeito, o ex-judoca Aurélio Miguel afirmou, em nota, não ter influência na CET. "Nesse órgão não consigo aprovar nem instalação de dispositivos redutores de velocidade ou semáforos", rebateu. O parlamentar, que atacou o apoio de seu partido a Serra, foi defendido no plenário da Câmara Municipal pelo coordenador da campanha de Haddad e presidente municipal do PT, vereador Antonio Donato. "O vereador Aurélio Miguel, nesse período todo, foi uma voz muito dura em relação aos problemas da CET. E tem sido uma voz muito dura em relação ao Aprov", disse Donato.
Segundo o MP, uma funcionária de longa-data da prefeitura contou que a cada 30 pessoas que iam ao gabinete de Aref buscar informações sobre a aprovação de obras, pelo menos três se queixavam de pedidos de suborno. Um corretor de imóveis, cujo nome não foi divulgado, relatou ter vendido 35 imóveis a Aref, todos pagos em dinheiro.
Outra testemunha, de acordo com Marques, afirmou que Aref pediu R$ 4 milhões de propina para liberar o Edifício Faria Lima, empreendimento da Brookfield. "Mas não sabemos ainda se esse suborno foi pago", disse o promotor, que realizou ontem, em conjunto com a Polícia Civil, uma operação de busca e apreensão na casa do ex-diretor do Aprov e na empresa SB4, da qual Aref é sócio com a família. "Procuramos informações tanto sobre o pagamento de propina quanto sobre o imóveis de Aref", explicou.
O promotor disse ainda que o inquérito do Ministério Público envolve outras construtoras dos setores comercial e residencial, além da Brookfield Gestão de Empreendimentos, mas não quis revelar os nomes "para não atrapalhar as investigações". O Valor não conseguiu contato com o advogado de Aref ontem e a Brookfield, que tem ações negociadas na Bovespa, não retornou o pedido de entrevista.


Fonte: Valor Econômico. Autores: Raphael Di Cunto e Marina Falcão

Link: http://virou.gr/NsSsCx



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