quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Eleição de Dilma acabou com perfil de "bonequinhas da propaganda" das primeiras-damas, diz especialista


Primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil, Dilma Rousseff colaborou para o processo de mudança de mentalidade da sociedade sobre o papel das primeiras-damas no País. A constatação é da cientista política da UnB (Universidade de Brasília) e pesquisadora de estudos sobre a mulher da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Ana Alice Costa.

A cientista política afirma que o fato de muitas mulheres terem uma trajetória profissional e pessoal desligada do marido faz com que a sociedade passe a olhar para elas sem esperar que desempenhem o papel de “esposa tradicional”. 

— A representação do homem público passava pela presença da mulher e a respeitabilidade estava ligada a presença da esposa. A mulher deixou de ser um apêndice. Acho que a Dilma vem para acabar com essa ideia de um papel específico da primeira-dama.

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Para a cientista política, Dilma é uma das mulheres que “romperam com o esquema” político que fazia com que as primeiras-damas fossem colocadas com “bonequinhas da propaganda”. 

— A Dilma vem para marcar um avanço em termos culturais de mudança de padrão.

Até o início dos anos 60 a mulher tinha o papel de acompanhar o marido. Com o tempo, a sociedade foi se modificando e isso foi visto também nas atitudes das primeiras-damas. 

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Para Ana Alice, a primeira-dama que merece destaque em relação a esse modo diferente de agir é a mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a antropóloga Ruth Cardoso. 

— Ela vinha de uma trajetória profissional, uma mulher reconhecida, com nome. Ela seguiu um papel diferenciado esperado da esposa tradicional. 

Com essa mudança de atitude por parte das mulheres, elas não concordam em ocupar esse papel de acompanhante, que não dá suas opiniões. 

— [A primeira-dama] seria um enfeite, que acontece ou não em decorrência da trajetória profissional. Se pensar em uma sociedade moderna não tem porque ter uma primeira-dama, ainda mais usufruindo desse Estado. 

Porém, a cientista política diz que essas mudanças de pensamento da sociedade, muitas vezes, não são levadas em consideração nos arranjos políticos. Ela cita o exemplo de Fátima Mendonça, mulher do governador da Bahia, Jaques Vagner (PT), que dava sua opinião sobre assuntos políticos. 

— Ela falava e dava a opinião política, muitas vezes divergentes do partido e até do governador. Hoje ela não fala, ela não pode falar. O que o governo fez foi calar a Fátima. Não existe nenhum documento oficial, mas a gente sabe que a Fátima foi censurada. 

O fato de as mulheres não só darem sua opinião sobre política, mas também atuarem na área ainda é visto como algo inusitado, mesmo já sendo possível observar algumas mudanças. Ana Alice exemplifica como a mesma sociedade que coloca uma mulher no poder pode também ter pensamentos preconceituosos. 

— Já imaginou se Dilma arrumasse um namorado? Se, de repente, aparecesse um namorado da Dilma metido nas coisas de estado? Já imaginou o que isso ia representar? Chama a atenção pela expectativa com o tradicional. 

Podemos observar que muitas primeiras-damas recebem cargos no governo depois que os maridos são eleitos. De acordo com a especialista, isso “é clientelismo” (cargos em troca de favores). 

— É ocupar o Estado de uma forma privada. A primeira-dama é simbólica. Ela ocupa uma secretaria, muitas vezes sem a preparação técnica adequada. 


Fonte: Linha Direta - http://migre.me/dfff5

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