31/10/2011
Brasil tem a ponte aérea mais cara do mundo
Por Alberto Komatsu
De São Paulo
Criado em 1959, no Brasil, para estimular a concorrência no voo mais movimentado e nobre do país, entre São Paulo e o Rio de Janeiro, o termo ponte aérea fez escola e passou a ser sinônimo de voos domésticos com alta densidade de tráfego. Passados 52 anos de seu lançamento, a rota entre os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont é a que tem a passagem mais cara do mundo.
A conclusão é de um levantamento feito pelo Valor, com dados do Centre for Aviation (Capa), um instituto de pesquisas recomendado pela Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês). Foi considerado um ranking das 50 rotas aéreas com maior oferta de assentos no mundo, elaborado pelo Capa entre 29 de agosto e 4 de setembro.
Como os voos domésticos de maior densidade de tráfego são frequentados principalmente por homens de negócios, foi simulada, no dia 25 de outubro, uma compra de passagem de ida e volta no mesmo dia (segunda-feira, 7 de novembro). O critério foi comum a todos os voos, com decolagem nas primeiras horas do dia e o retorno a partir das 18 horas, sempre levando em conta o menor preço nesses horários. Não foram incluídas as taxas de embarque.
Foram escolhidas dez da 50 rotas com maior oferta de assentos do mundo. O critério de escolha seguiu a relevância da rota em termos de posição no ranking de oferta e as principais ligações de cada continente. Isso porque algumas das rotas com maior capacidade são de um mesmo país.
Foram consultados, ainda, especialistas do setor aéreo, que concordaram com os critérios do levantamento. A pesquisa de preços foi feita em sites de duas empresas aéreas diferentes, em cada rota.
O voo de ida e volta entre os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont tem preço médio de R$ 979,90. A rota Dubai-Doha, nos Emirados Árabes, vem em segundo lugar, com dois bilhetes a R$ 924,16. A frequência entre Tóquio e Sapporo, no Japão, tem o terceiro maior preço, de R$ 586,62. As passagens mais baratas são do voo Los Angeles-San Francisco, a R$ 169,41.
"Você até pode ter 10 empresas competindo numa mesma rota, mas se apenas duas têm de 80% a 90% da oferta, fica difícil as outras oito, com menos de 20% da oferta, forçarem o preço da passagem para baixo", afirma o professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício Espírito Santo.
Relatório anual do transporte aéreo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostra que TAM e Gol responderam, juntas, por 90,5% da demanda na ponte aérea, em 2010. A Avianca tem 9,3%. A TAM ficou com 47,5% do fluxo de passageiros e a Gol com 43%. A taxa média de ocupação dos aviões da TAM nessa rota foi de 65%. Na Gol, de 57%.
"Congonhas é um aeroporto com pouca capacidade para o tamanho da demanda na ponte aérea. Em outras partes do mundo, os aeroportos são proporcionalmente maiores", diz o especialista do setor aéreo da consultoria Bain & Company, André Castellini.
Como alternativa para a limitada capacidade de Congonhas, Castellini lembra do terceiro aeroporto de São Paulo. Segundo ele, sem esse terminal os preços só devem subir, o que vai tornar a ponte aérea "ainda mais elitizada". O projeto do terceiro aeroporto está em estudo desde meados de 2007 pelas construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, mas depende do aval do governo federal para sair do papel.
"Quando houve competição na ponte aérea, os preços das passagens caíram. Essa flexibilidade aconteceu apenas em dois momentos da história", afirma o diretor de comunicação e marca da Azul, Gianfranco Beting, autor de livros sobre a história da aviação e de artigos sobre a origem da ponte aérea em revistas e sites especializados do setor aéreo.
Segundo ele, só houve competição e preços mais baixos na ponte aérea no início de sua criação, com a concorrência entre quatro empresas, e entre 1999 e 2001, quando seis companhias disputavam a rota mais rentável da aviação brasileira.
"É público o interesse da Azul de entrar na ponte aérea, mas isso só é viável economicamente com mais horários para as novas empresas em Congonhas e em horas de movimento", diz Beting. O executivo discorda dos critérios de distribuição de horários de pouso e decolagem (slots, no jargão do setor aéreo) em Congonhas.
O último leilão de slots em Congonhas aconteceu em 3 de fevereiro de 2010. A Anac fez um leilão de 355 slots, sendo que 80% deles foram concedidos às empresas que já atuavam no aeroporto, TAM, Gol e Webjet. Azul, Webjet e NHT participaram pela primeira vez. "Deveria ser o contrário, 80% para as novas companhias e 20% para as que já operam", diz Beting.
A oferta total na ponte aérea brasileira, no ano passado, foi a maior entre as principais rotas brasileiras, de 5,7 milhões de assentos, segundo o relatório da Anac. É mais do que a capacidade somada da segunda e terceira ligações desse ranking, entre Congonhas e Brasília (2,8 milhões) e Cumbica Salvador (2,6 milhões). Só a Gol opera durante a semana 31 voos em cada sentido da ponte aérea, ou uma decolagem a cada 30 minutos nos horários de pico.
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