domingo, 13 de novembro de 2011

Os tucanos se reúnem (outra vez) - Marcos Coimbra

sábado, 12 de novembro de 2011

CartaCapital n˚ 672

Aconteceu mais um encontro do PSDB para discutir e estruturar o que chamam de “nova agenda” que o partido pretende apresentar ao País. Nas palavras do ex-senador Tasso Jereissati, presidente do Instituto Teotônio Vilela, seu órgão de estudos e pesquisas, foi um evento destinado a repensar o Brasil “para as próximas décadas”.

Realizado no Rio de Janeiro, reuniu as principais lideranças tucanas e ainda técnicos vinculados ao partido. Desses, quase todos eram antigos colaboradores dos governos de Fernando Henrique Cardoso, com participação destacada na formulação do Plano Real e na condução da política econômica.

Quem achar que foi uma oportunidade incomum, engana-se. Não que o PSDB faça seminários assim a toda hora. Mas eles estão longe de ser raros.

Pensando bem, se há algo que não falta aos tucanos é tempo e oportunidade para eles. Há pouco mais de um ano, houve outro quase idêntico, desta feita em São Paulo, no Instituto Fernando Henrique Cardoso. Como ocorreu em agosto, em plena campanha eleitoral, seus principais líderes políticos não compareceram, deixando-o restrito ao ex-presidente e assessores. Seu título era “Transição Incompleta e Dilemas da (macro) Economia Brasileira”, mas o conteúdo não diferia desse de agora. Ele também pretendia formular uma receita para o futuro do Brasil.

Nenhum de nossos partidos congrega seus luminares com tanta frequência. Nem o PT, que tem vida partidária mais intensa e regular. Para não falar nos demais, que costumam fazer seus encontros apenas nas convenções nacionais e estaduais, exigidas pela legislação.

O curioso nessa multiplicação de eventos tucanos é que eles reúnem sempre as mesmas pessoas, para tratar dos mesmos assuntos. Por que são assim?

Alguém, em algum momento (sabe-se lá com qual fundamento), vaticinou que os problemas do PSDB e das oposições nos últimos anos – a começar pelo mais óbvio, suas derrotas para o PT nas eleições presidenciais, têm uma só origem: a não valorização do “legado de Fernando Henrique”.

De acordo com esse raciocínio, José Serra e Geraldo Alckmin erraram ao não elogiá-lo e foram além, desvalorizando-o. Assim teriam “jogado fora a identidade” e deixado as bandeiras à disposição do PT, que, ardilosamente, as teria tomado.

Tudo que aconteceu de bom com Lula e o PT e tudo o que sobreveio de mal para o PSDB teria nascido aí. Mas esse pecado original seria corrigível, desde que houvesse a celebração daquela herança, equivocadamente, abandonada.

Essa tese nada mais é do que uma lenda. Nem Serra nem Alckmin, nem Serra de novo, perderam, porque não “valorizavam o legado de FHC. Nem, muito menos, Lula e Dilma Rousseff venceram porque se “apropriaram”de seu conteúdo.

A falha fundamental do argumento é esquecer que a opinião pública se mostrou plenamente capaz de fazer sua própria avaliação do “legado de FHC” e o desaprovou. Não por lhe ter sido subtraída “a verdade”, mas por ter feito um balanço de acertos e erros, e chegado a um saldo negativo.

Para o PSDB de hoje e para o conjunto das oposições, o problema do “legado de FHC” não é ser pouco reconhecido, mas o inverso: ser reconhecido até demais. Não é que as pessoas não percebam as coisas boas de seu governo (aquelas que Lula teria, espertamente, surrupiado), mas que as contextualizam em um todo de que não sentem saudade.

E ninguém acredita que tudo o que Lula fez e Dilma está fazendo são continuações canhestras do que herdaram. Quando FHC brada, como no último encontro tucano, “Pegaram o nosso (programa) e (o) executaram mal”, ele pode ganhar o aplauso dos correligionários, mas afronta o sentimento da vasta maioria da sociedade.

Há algo de patético nesses eventos. As fotos que a mídia publica se parecem com as dos encontros de 30 anos das turmas de escola. Todos estão velhos, todos perderam o vigor da juventude. É difícil identificar, no cidadão maduro de agora, o colega de antigamente.

A “turma do Real” envelheceu. Hoje, o compromisso maior de seus integrantes parece ser com as ideias que tinham há 20 anos (fora os que têm com seus próprios bancos). Tanto que permanecem com elas e nem cogitam a possibilidade de revê-las. E que, a cada oportunidade, as repetem como um mantra.

Será que é assim, com as mesmas pessoas, dizendo as mesmas coisas, que as oposições pretendem se apresentar nas próximas eleições? Será que não desconfiam que, em 2014, as ideias de 1994 podem estar velhas? Que, muito mais que homenagear as propostas antigas, precisam se renovar e defender uma nova visão do Brasil?

Será que sua “nova agenda” é permanecer na adoração do passado?


O PSDB limitando-se a cumprir tabela

Há uma boa razão para supor que a repórter que cobriu o evento do PSDB - ontem no Rio - possa não ter entendido direito o conteúdo discutido. Mas há outras boas razões de que tenha sido isso mesmo. A razão para não ter entendido é o absurdo de FHC considerar revolucionária uma ideia banal; a razão para o fato ter ocorrido é que, na ausência absoluta de ideias, o que aparecer, truco!

O fato é que, segundo a reportagem da Folha:

"A proposta que mais entusiasmou os tucanos foi apresentada pelo ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida, que defendeu o fim do crédito subsidiado oferecido por bancos públicos -como o BNDES.

Segundo Arida, seria uma maneira de acelerar a queda da taxa básica de juros e elevar a remuneração da caderneta de poupança e de fundos administrados pelo governo, como o FAT e o FGTS.

Com o fim dos subsídios, as taxas de juros cobradas pelo BNDES e por outros bancos públicos seriam elevadas para níveis mais próximos das taxas cobradas pelos bancos privados, reduzindo a demanda pelo crédito oficial e liberando os recursos públicos para outras finalidades.

"O governo tem de agir em nome do bem comum, e não favorecer o lobby dos tomadores de recursos subsidiados", afirmou Arida. FHC considerou a proposta "revolucionária".

Não sei qual o significado da expressão "mais entusiasmou". Talvez fosse o que "menos desanimou". De qualquer modo, corto um dedo se FHC afirmou, de fato, que a ideia é "revolucionária".

A proposta de Arida é velhíssima e atende apenas os interesses do setor financeiro – justamente aquele que o PSDB não precisa conquistar.

As análises dos ex-intelectuais – conforme reproduzidas pelos jornais – é de uma pobreza inversamente proporcional ao seu sucesso como empresários. Não se tratava de tucanos propondo ideias para os eleitores; mas de financistas usando o PSDB para a defesa de seus interesses.

Gustavo Franco mostrou um celular e atribuiu o avanço à privatização. Sem entrar no mérito ou demérito da privatização, com empresas privadas ou com o sistema Telebras os celulares chegariam aos borbotões, pois vieram no rastro de avanços tecnológicos. Telesp estatal já vendia celulares, assim como a Telemig. Pode-se discutir se o sistema ficou mais eficiente ou não. Atribuir à privatização a expansão da telefonia celular é falsidade ideológica.

Edmar Bacha sustentou que "temos um governo federal capturado por interesses espúrios, incapaz de promover o bem comum", em um momento em que o mundo celebra o maior processo de inclusão social da história do país. Há uma preguiça latente em pensar a crítica correta.

O encontro já não tinha povo. Com a proposta "revolucionária" de Arida, não terá industriais. Não havia sindicalistas, ONGs, movimentos sociais, redes sociais, novos empreendedores, artistas, nova geração de tucaninhos para pegar o bastão da velha guarda, sequer havia classe média.

Apenas velhas lideranças políticas e ex-intelectuais em uma sessão nostalgia, fazendo o lobby do mercado para um partido submersoi no vácuo de ideias.

Nessa aridez de ideias, o discurso dominante resumiu-se à guerra contra a corrupção – como se o partido estivesse fora do jogo do financiamento partidário.

No mesmo momento, aliás, Paulo Preto e Eduardo Jorge participavam de uma audiência de conciliação – mal sucedida – na qual Preto pretendia reparação pelo fato de Jorge tê-lo acusado de desvio de R$ 4 milhões da campanha tucana. Obviamente, dinheiro não contabilizado.

O máximo que FHC agregou às bandeiras partidárias foi o lema: "sim, nós cuidamos", tentando criar uma imagem de que o partido cuida das famílias, algo tão incrível quanto a foto do "Serra doçura" na capa da Veja. Esquece-se que o descuido com a parte social e a despreocupação com o contribuinte e o cidadão pavimentaram a vitória de Lula em 2002. E esse passado não será reparado com um slogan.

Depois dessa reprise infindável, FHC terminou o encontro com frases de marqueteiro – não de um ex-presidente intelectualizado: "Começamos a falar com uma nova voz, a voz dos que querem vencer. O Brasil precisa da nossa vitória", com a energia de um Napoleão na ilha de Santa Helena, falando para as pedras.

Atrasado como sempre, a "nova voz" chegou ao encontro um pouco antes do final: era José Serra falando de corrupção.

Enquanto isto, em São Paulo, o Secretario de Assuntos Metropolitanos, Edson Aparecido, celebrava o novo momento do federalismo brasileiro: a colaboração civilizada entre São Paulo e o Ministro da Educação Fernando Haddad.

www.advivo.com.br ter, 08/11/2011 - 17:20

Autor: Luis Nassif

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