segunda-feira, 28 de maio de 2012

A força da imagem do PT

Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário Brasileiro tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas instituições políticas, pode-se até dizer que ele é muito significativo. 
Em um país com democracia intermitente, baixo acesso à educação e onde a participação eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que se identificam com algum partido chega a ser surpreendente. 

Se há, portanto, uma coisa que chama a atenção no Brasil não é a ausência, mas  presença de vínculos partidários no eleitorado. 
Conforme mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum vínculo. 
Seria possível imaginar que essa taxa é consequência de termos um amplo e variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um cardápio tão vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um partido com o qual concordar. 
Mas não é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as identificações são concentradas. Na verdade, fortemente concentradas. 
O Vox Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o tema. Deu o esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido. Mas 80% desses se restringiram a apenas três: PT (com 28% das respostas), PMDB (com 6%) e PSDB (com 5%). Olhando desse modo, o sistema é, portanto, bem menos heterogêneo, pois os restantes 26 partidos dividem os 20% que sobram. Temos a rigor apenas três partidos de expressão. 


Entre os três, um padrão semelhante. Sozinho, o PT representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz todos os demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele. 
Em resumo, 50% dos eleitores brasileiros não têm partido, 30% são petistas e 20% simpatizam com algum outro - e a metade desses é peemedebista ou tucana. Do primeiro para o segundo, a relação é de quase cinco vezes. 
A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao entrevistado que diga se "simpatiza", "antipatiza" ou se não tem um ou outro sentimento em relação ao partido. Entre "muita" e "alguma simpatia", temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam 11%, que antipatizam "alguma" coisa ou "muito" com ele.
Essa simpatia está presente mesmo entre os que se identificam com os demais partidos. É simpática ao PT a metade dos que se sentem próximos do PMDB, um terço dos que gostam do PSDB e metade dos que simpatizam com os outros. 
Se o partido é visto com bons olhos por proporções tão amplas, não espanta que seja avaliado positivamente pela maioria em diversos quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram um partido "moderno" (ante 14% que o acham "ultrapassado"); 70% entendem que "tem compromisso com os pobres" (ante 14% que dizem que não); 66% afiram que "busca atender ao interessa da maioria da população" (ante 15% que não acreditam nisso).


Até em uma dimensão particularmente complicada seu desempenho é positivo: 56% dos entrevistados acham que "cumpre o que promete" (enquanto 23% dizem que não). Níveis de confiança como esses não são comuns em nosso sistema político. 
Ao comparar os resultados dessa pesquisa com outras, percebe-se que a imagem do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos últimos anos. No mínimo, de estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a proporção dos que dizem que o partido tem atuação "positiva na política brasileira" foi de 57% a 66%.
A avaliação de sua contribuição para o crescimento do país também se mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados estavam de acordo com a frase "O PT ajuda o Brasil a crescer", proporção que foia 72% neste ano. 
O sucesso de Lula e o bom começo da Dilma Rousseff são uma parte importante da explicação para esses números. Mas não seria correto interpretá-los como fruto exclusivo da atuação de amos. 
Nas suas três décadas de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em nossa cultura política e se diferenciou dos demais partidos da atualidade: formou laços sólidos com uma ampla parcela do eleitorado. O petismo tornou-se um fenômeno de massa. 
Há, é certo, quem não goste dele - os 11% que antipatizam, entre os quais os 5% que desgostam muito. Mas não mudam o quadro. 
Ao se considerar tudo que aconteceu ao partido e ao se levar em conta o tratamento sistematicamente negativo que recebe da chamada "grande imprensa" - demonstrado em pesquisas acadêmicas realizadas por instituições respeitadas - é um saldo muito bom. 
É com essa imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que o PT se prepara para enfrentar os difíceis dias em que o coro da indústria de comunicação usará o julgamento do mensalão para desgastá-lo. 
Conseguirá? 


Fonte: Carta Capital 

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