domingo, 15 de janeiro de 2012

É hora do PT se aliar a Kassab?

A iniciativa do Prefeito Gilberto Kassab de procurar Lula e propor uma aliança entre o PSD e o PT nas próximas eleições na Capital, causaram um verdadeiro tremor nas forças políticas da cidade. Tanto os petistas como os tucanos ficaram estupefatos com a proposta do Prefeito que significa um rearranjo geral das forças políticas em disputa.

Kassab propõe romper a aliança que o sustentou na Prefeitura a partir da renúncia de Serra em 2006 para concorrer ao Governo do Estado e que o reelegeu no segundo turno de 2008. Muitos analistas consideraram que a proposta seria apenas pressão sobre os tucanos para que definam logo uma política de alianças na Capital com o PSD, tendo como centro a candidatura de Serra ou de Afif. O que parece ter tido até um certo efeito, o ex-governador Goldman foi aos jornais ressuscitar o nome de Serra, muito abalado pela rejeição dos paulistanos e pelas denúncias contidas no livro Privataria Tucana.

Mas Kassab fez a proposta diretamente a Lula e ainda disse que ele poderia escolher qualquer um dos quadros do PSD para a posição de vice. Portanto, não me parece apenas um jogo de pressão. Na verdade, do meu ponto de vista, está se operando um reposicionamento das forças conservadoras que foram profundamente derrotadas nas eleições de 2010. Esse reposicionamento já ocorreu em outros momentos da história, como no fim da ditadura quando uma parcela da ARENA rompeu com o governo militar, fundou o PFL e participou da chamada Nova República.

A fundação do PSD foi um golpe a mais na profunda agonia do DEM (sucessor do PFL) e no comando do PSDB que contava com essas forças para organizar a oposição à Dilma. Mas é também a possibilidade das forças conservadoras se reorganizarem sem a prática de uma oposição raivosa e buscarem retomar espaços no poder central e estruturar uma futura candidatura à presidência.

O jogo está dado e caberá agora ao PT de São Paulo definir qual a linha a seguir. Acredito que devemos fazer uma profunda avaliação do governo Kassab e da nossa situação na cidade.

Kassab foi eleito prometendo resolver problemas estruturais. Expandir a rede de saúde pública construindo três hospitais, ampliar os corredores com melhores projetos, garantir creche para todas as crianças, melhorar a qualidade de vida na cidade. Ao final de três anos de governo, podemos dizer que essas e muitas outras metas não foram e não serão cumpridas, mesmo com o enorme volume de dinheiro em caixa (R$ 5 bilhões) e com o espetacular aumento de arrecadação dos tributos e multas municipais.

Kassab no seu primeiro mandato se notabilizou pelo "Cidade Limpa" e por obras cosméticas como recapeamento de avenidas. No segundo mandato não deixou marcas positivas. Ao contrário, o abandono da cidade, a falta de limpeza pública, as enchentes, a situação da cracolândia, o aumento dos congestionamentos, os reajustes na tarifa de ônibus, as irregularedades na inspeção veicular, derrubaram a avaliação do seu governo em todos os extratos da população, até mesmo entre os mais ricos que sempre o apoiaram.

Kassab firmou a imagem de hábil articulador político mas também de um prefeito que abandonou a cidade para cuidar de fundar seu partido.

Por outro lado, o PT nesse período só cresceu. Recuperamos nossa votação em diversas zonas eleitorais em 2010. Superamos todos os índices de preferência partidária. Temos uma atuação bastante ampla em todos os setores da vida social. Temos um Governo Federal de Lula e Dilma com recordes de avaliação positiva.

Mas, principalmente, construímos através de um processo político participativo uma candidatura que unificou o Partido. Realizamos mais de 30 plenárias em todos os bairros da cidade. Ouvimos a nossa base e decidimos renovar nossa candidatura com um nome que tem experiência administrativa e realizações profundamente ligadas ao governo do Presidente Lula, que possibilitaram que muito mais jovens pudessem ter acesso a universidade e a uma educação de qualidade.

Em todo esse processo ficou clara a posição política da nossa base. Somos oposição ao governo Kassab. E isso foi reafirmado por todos os pré candidatos, inclusive o companheiro Fernando Hadad que sempre denunciou a falta de empenho do prefeito em firmar parcerias com o Governo Federal, inclusive deixando de receber mais de 100 creches que tanto fazem falta para a nossa população.

Ao aceitarmos a proposta de aliança com Kassab podemos ter o apoio da máquina da prefeitura e reforçar a nossa candidatura para derrotar os tucanos no seu ninho mais forte. Mas como será entendido isso por um povo cada vez mais politizado e posicionado?

Será que nossa base social vai entender uma aliança com um prefeito que não governa para ela? Será que os apoiadores do governo Kassab vão apoiar uma candidatura petista?

É evidente que devemos sempre buscar ampliar nossas alianças para derrotar nosso inimigo principal que é o tucanato, que nos odeia de morte. Mas temos que considerar que a nossa história na cidade de São Paulo, onde governamos por duas vezes sempre com políticas inovadoras, inclusivas e progressistas forjou um eleitorado que vai achar muito estranha essa nova postura.

Vamos construir uma candidatura ampla e com propostas de melhoria efetiva da vida dos paulistanos. Atacar os problemas estruturais que impedem a melhoria da qualidade de vida e de melhoria social do nosso povo. Avançar na educação, na renda e no empreendorismo com o apoio decisivo de uma prefeitura que tem recursos e capacidade de intervir e mudar as coisas.

Temos um Partido forte com política e quadros para governar e melhorar a vida do povo. E temos capacidade de construir alianças com aqueles que estão de verdade ao lado dessas idéias. Vamos nos manter na oposição e construir um novo momento histórico na cidade de São Paulo.

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